29 de abril de 2008

As tribos do Acre

Terra Indígena Deni, entre os rios Purus e Juruá

"Por diversas razões, há poucos dados seguros a respeito dos povos indígenas da região atual do Acre. O território dos cursos superiores dos afluentes da margem direita do Amazonas foi explorado relativamente tarde, de modo que os índios dessa região, então praticamente desconhecida, raramente foram mencionados nas fontes mais antigas ou receberam atributos fantásticos. O Pe. Cristobal d‘Acuña registrou, por exemplo, a lenda de que no Purus (ou rio Cachiçuará) viviam índios gigantescos, os Curiquerês, que se enfeitavam com folhas de ouro e traziam anéis de ouro no nariz e nas orelhas. No mapa do "Rio do Omopalens" - o Purus -, realizada por Guillaume d‘Isle da Academia Real das Ciências, em 1703, tais gigantes são denominados Mutuanis, eles habitariam a dois meses de marcha a pé da embocadora daquele rio. Enquanto que se supunha haver gigantes no Purús, acreditava-se que no Jurúa viviam anões e homens com rabos. Ainda na descrição do Pará de Antonio Ladislau Monteiro Baena, publicada em 1832, pode-se constatar a permanência de tais lendas: os índios anões seriam os Caunás, os com rabos os Uginas. Ao lado de tal etnografia fantástica havia também uma geografia marcada por hipóteses: supunha-se que o Purús, famoso pela sua riqueza (salsaparilha, cacao, tartarugas, óleo, peixes), tinha as suas fontes nas alturas da cidade de Cuzco. Este vínculo com Cuzco também era suposto no caso do Juruá, pois admitia-se que teria sido esse o rio da viagem de Pedro de Orsua e Lopo de Aguirre, provenientes do Peru.

Na região dos cursos superiores do Juruá e do Purus, de acordo com as fontes conhecidas, não houve nenhuma missão no periodo colonial. Spix e Martius mencionam, no início do século XIX, que não seria possível pensar em catequização de índios nesse território. É porém difícil afirmar com segurança se esses povos tiveram ou não contactos indiretos com as missões, sobretudo através de indígenas cristianizados provenientes de outras aldeias no século XVIII, uma vez que essas regiões de difícil acesso serviam como territórios de refúgio. A história missionária não pode seguir, no caso, fronteiras nacionais estabelecidas posteriormente. Os jesuítas desenvolveram intenso trabalho missionário no Equador ao redor de 1700. Também as missões espanholas peruanas estavam particularmente ativas nessa época. Para essas aldeias eram levados também indígenas do Brasil, inclusive índios já cristianizados. Mencione-se aqui o povo Marahua, em parte já catequizado e que vivia nos afluentes do Javari e do Juruá.

A artificialidade da divisão política colonial e pós-colonial da região, com penetração por todos os lados, torna difícil toda e qualquer classificação da população indígena segundo perspectivas nacionais. Assim, as tribos regionais, na sua maioria, pertenciam até o início do século XX à Bolívia e, em parte, ao Peru, precisando ser consideradas no contexto histórico desses países, em cuja formação cultural os índios desempenharam um papel muito mais determinante do que no Brasil. Pelas suas características naturais, essa região situava-se porém mais distante dos territórios centrais da Bolívia do que dos restantes territórios de floresta dos afluentes da margem direita do Amazonas, uma vez que há uma continuidade natural entre as partes inferiores e superiores dos rios. A consideração etnológica não pode, portanto, guiar-se pelas divisões nacionais e não pode perder de vista as relações com os indígenas dos países vizinhos da Bolívia e do Peru; ela também não pode considerar as etnias atuais do Acre isoladamente daquelas do Amazonas.

O complexo determinado pelos rios também é de importância fundamental para o estudo dos contactos culturais dos indígenas com a cultura de cunho europeu. Através desses rios, os índios já se encontravam no início do século XIX em contacto com comerciantes de produtos da floresta e que se utilizavam de índios integrados na sociedade brasileira ou de brasileiros de ascendência indígena como auxiliares e intermediários.

Segundo os dados de Spix e Martius, viviam nessa região os Purus-Purus (ou Purupurus) - que teriam dado o nome ao rio -, os Amanatis e os Ita Tapuias; todos seriam temidos pela sua selvageria e o comércio com eles se fazia sob a proteção de armas; a região tão rica em cacau e salsaparilha do Juruá seria habitada pelos Catauixis, Catuquinás, Canamarés e outros povos. Até mesmo esses renomados eruditos mencionam a existência de gente com rabos - os Coatá Tapuias no Juruá - e os anões: os Cananas. Ferdinand Denis, que também cita os Purupurus (Purus-Purus) e os Catauixis, salienta o significado da produção de borracha devido ao incremento da procura européia já no início do século XIX e remonta a origem da obtenção do leite da seringueira aos Omaguas; nessa época, os seringueiros seriam em grande parte indígenas.

Um quadro dos poucos conhecimentos a respeito dessa região e de seus habitantes oferecidos aos leitores interessados da Europa ao redor de 1860 encontra-se no relato de P. Marcoy. Esse viajante compara o estado da época com aquele de 1640 a 1680 e de 1850/51. Ele se baseia em artigo publicado em jornal de Belém (Telégrafo Paraense) de 1829, fundamentado em dados de Noronha e Sampaio (1750-1774). Marcoy reconhece a falta de exatidão dos dados, uma vez que até mesmo o rio Juruá aparece confundido com o Japurá. Para o período de 1640 a 1680, registrou os seguintes grupos indígenas no Juruá: Catahuichis, Cahuanas, Marahuas, Canamahuas, Yumaas, Camaramas, Payabas, Papianas, Ticunas, Nahuas e Culinos; para a região do Purus: Purus-Purus, Muras, Abacaxis, Maués, Sapupés, Comanis, Aytonarias, Acaraiuaras, Brauaras, Curitias, Catahuichis, Uarupas, Muturucus, Catukinos e Sehuacus. O autor menciona que, no ano de 1860, na embocadura do Juruá, viviam ainda famílias do povo Anahua (antes Nahua), no interior Catahuichis e no curso superior do rio Catukinos; para o Purus, registra alguns Muras e muito poucos Purus-Purus no curso inferior, assim como Catahuichis, Catukinos e Sehuacus rio-acima. No seu mapa dos afluentes não explorados do curso superior do Amazonas, Marcoy registra Sehuacus e Canamaris no curso superior do Purus, assim como Catukinos e Canamaris no Tarauaca e no Juruá. Em geral, esse catálogo oferece um quadro da população numericamente mais reduzida da população indígena do lado direito do Amazonas em comparação àquela do lado esquerdo. Demonstra assim, uma redução considerável do número de tribos mencionadas no decorrer do tempo.

Para a mudança da situação étnica nessa região no decorrer do século XIX contribuiram em primeiro lugar os conctactos ocorridos espontaneamente com índios integrados de todo ou em parte (tapuias) com comerciantes, na sua maioria de origem portuguesa, e os empreendimentos oficiais de descimento e aldeamento de grupos que viviam dispersos na floresta. As modificações mais profundas deram-se, porém com a imigração crescente de nordestinos. A procura de mão-de-obra na expansiva extração da borracha acarretou problemas. Talvez por essa razão, já em 1818, o último governador do Rio Negro, Manoel Joaquim do Paço, proibiu viagens pelo Purus. O Govêrno da província do Amazonas salientou numa circular às repartições oficiais, com indignação, que os índios do Juruá, do Purus e de outros rios não eram tratados como homens livres por aqueles que se dedicavam à extração da borracha, sendo às vezes forçados a esse trabalho; tal procedimento criminoso deveria ser severamente punido (Officio Provincial de 16 de julho de 1878). No decorrer da exploração crescente da região, o contacto com índios da área do curso superior do Juruá ocorreu mais tardiamente e de forma mais conflitante do que com aquelas do curso superior do Purus. A resistência indígena contra os invasores no curso superior do Juruá parece ser um indício da força das sociedades indígenas da região, ainda no começo do século XX.

Impressões a respeito das dificuldades que resultavam dos contactos e da convivência dos índios com os imigrados oferecem testemunhos da época da passagem do século. Para a área de divisa com a Bolívia, tem-se um desses retratos no relato de Albert Perl, um viajante e empreendedor alemão que visitou uma aldeia Pacaguara no Chipamanu, um dos formadores do Abunã. Ele salientou que, na época, dominava a idéia de que a tribo dos Guarayos ocupava a região do Madidi até o Madeira, passando pelo Madre de Dios, apresentando traços aparentados com os Caripunas e Pacaguaras. Ele, porém, pode constatar que nessa região ainda viviam vários outros grupos diferentes, de tipo não equivalente ao dos Guarayos. Na Barraca Carmen, deparou-se com um grande número desses últimos índios - cujo nome significaria "guerreiro" - e que teriam sido trazidos à força por uma expedição. Dos homens, apenas poucos sobreviviam e encontravam-se à beira da morte. Os índios caiam em apatia e tristeza, recusavam todo tipo de alimentação e morriam de fome.

Os grupos indígenas nessa região do início do século XX são tratados nos estudos que já podem ser considerados como clássicos de C. Tastevin e P. Rivet, publicados no órgão da sociedade francesa de geografia. Eles podem ser, em geral, ordenados em dois troncos lingúisticos: o Pano, falado por indígenas que vivem sobretudo no curso superior do Juruá, e o Aruak, falado por índios que têm a sua principal área de difusão no curso superior do Purus e afluentes. Na área do Alto Juruá, pode-se mencionar os seguintes grupos: Amahuaka, Aninawa, Kampa, Katukina, Kapanawa, Kasinawa ou Kaxinaua, Kontanaya, Koto, Kulina, Marinawa, Maseuruna, Naw ou Naua, Nukuini, Pakanawa, Poinawa, Remo, Saninawa e Sipinawa. As tribos do Alto Purus e afluentes eram: Contakiro, Imammari ou Imammali, Ipurinã, Kanamari, Kapecene e Maniteri".

Fonte: Antonio Alexandre Bispo, em "Etnologia do Acre: Índios e Imigrantes." Sobre o Alto Purus, leiam no site do CTC: "Alto Purús: Biodiversidad, Conservación y Manejo".

23 de abril de 2008

O Imaginário Andino de Alexei Pino





Apresento aqui algumas das pinturas a óleo de Alexei Farfán Pino que fazem parte da exposição "O Tecido da Terra", na Pizzeria Piola de Rio Branco, Acre, até o fim deste mês. As obras estão à venda por um valor médio de 850 reais, interessados em receber o catálogo completo para negociar, ou queiram adquirir uma destas aqui mostradas, por favor entrem em contato comigo pelo mail alcanave@gmail.com. O artista estará também apresentando em Rio Branco uma palestra com o tema "Restauração e Conservação de Obras de Arte & o Imaginário Andino de Alexei Pino", na próxima segunda-feira dia 28 de abril, às 19 horas, na Usina de Arte João Donato.

Barbatuques, o corpo do som


Barbatuques tocando para Petrona Martinez em seu camarim. Após show de Petrona, durante a Semana Cultural da Universidade Nacional de Colômbia - Bogotá. Outros links:
www.reverbnation.com/barbatuques
www.myspace.com/barbatuques
www.virb.com/barbatuques
www.barbatuques.com.br

22 de abril de 2008

O Dia da Terra


O Dia da Terra foi criado em 22 de abril de 1970 quando o então Senador americano Gaylord Nelson convocou o primeiro protesto nacional contra a poluição. Naquela data, mais de 20 milhões de pessoas nos EUA se engajaram imediatamente para manifestar a sua preocupação com a degradação ambiental. A partir de 1990, o Dia da Terra passou a ser adotado em vários países ao redor do mundo e a sua comemoração vem se tornando um evento internacional. Em 2003, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do Brasil, publicou o seguinte artigo a respeito:
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Neste ano (2003), o terceiro do milênio no qual depositamos tantas esperanças, comemorar o Dia da Terra exige reflexão e compromisso. O planeta não vive seus melhores dias e nós, a assim chamada "espécie superior", andamos inseguros a respeito de nossa própria capacidade de fazer deste um mundo melhor. O signo é de guerra, unilateralidade na resolução de conflitos, arreganhos do crime organizado, sensação de anomia e de abandono dos valores que costumavam ser nossas balizas, construtores de sentido existencial e códigos para ajudar a decifrar a essência da condição humana. Nesse clima, falar de paz virou coisa séria. Não basta a estética, nem mesmo a ética, ou a inocência, ou o devaneio. É preciso militância. E não só a das ruas, circunstanciais e emotivas. Agora é também questão de escolha racional, com as conseqüências que isso envolve. É preciso que a paz seja uma opção política.

Ainda temos nos olhos as cenas terríveis do Iraque, pessoas sendo despedaçadas pela morte ou mutilação física e psicológica, pela destruição de suas referências. Mas, na contabilidade da guerra, são apenas danos colaterais, assim como o cerceamento da liberdade de imprensa e a perda de bens do patrimônio histórico da humanidade. Mesmo aqui, a salvo deste horror, sentados no sofá diante da TV, somos atingidos pela perda de valores, sentimos que nossa vida também ficou pior. E sabemos que temos que fazer alguma coisa. Não lá no Iraque. Aqui. Dentro da nossa casa, na nossa vizinhança, na nossa cidade, no nosso país. No Dia da Terra, ou pensamos nisso tudo ou será uma data lamentavelmente vazia. Ela pode ser um símbolo forte do que parece estar-se perdendo: os valores humanos, espirituais e os naturais, entendidos, esses últimos, como aqueles que remetem à ligação essencial de cada um com o habitat planetário, obscurecida pela aparente auto-suficiência da tecnologia e dos "poderes" humanos.

Há certo consenso a respeito da proteção ambiental. Todos são a favor, mas, boa parte, só se for no "meio ambiente" alheio. Quer-se o bem da floresta amazônica, já as obrigações ambientais da empresa... Salvem-se as tartarugas e baleias, já reduzir o próprio lixo...Combata-se a poluição, mas não o uso intensivo do carro particular. As unanimidades em prol da paz, do meio ambiente, do combate à pobreza, às vezes esquecem que é preciso construir na prática a solução para aquilo que incomoda a consciência. E que a construção começa no indivíduo e no que ele está disposto a fazer - ou a deixar de fazer - para a vida melhorar. Esta sim é uma questão de atitude. Continuamos a produzir desastres ambientais e humanos. Eles lembram que ainda estamos na barbárie. A civilização de fato avançada ainda está a caminho e é tarefa para muitas gerações. Agride-se a Terra porque ela é vista apenas como fonte e suporte de bens para o mercado; destroem-se pessoas porque são vistas apenas como consumidoras e contingentes geopolíticos. Não sem razão o petróleo é um personagem tão destacado nas guerras presentes e passadas no Oriente Médio.

Também não sem razão as causas ambientais cada vez mais se confundem com seu espelho social e ético. Hoje procuramos soluções socioambientais, não só ambientais. Falamos em justiça ambiental como parte intrínseca da justiça social. A qualidade de vida é direito humano, assim como a saúde, a educação, a habitação. E acumulam-se evidências de que a atividade econômica não precisa ser predadora. É desejável, viável e factível o caminho do desenvolvimento sustentável. Nada foi e nada será fácil na trajetória dessas idéias, mas elas se impuseram como alternativa e conquistaram adesões - ou, no mínimo, provocaram constrangimentos - em todos os segmentos da sociedade. Mexeram naquele recanto da mente e das emoções no qual está intacta a necessidade de ideais comuns e a crença de que um mundo melhor e sustentável é possível. Nós procriamos e criamos; é inevitável ter amor pelo futuro e compaixão pelo presente. O Dia da Terra exige uma atitude.

Fonte: Ambiente Brasil . Pintura da Série "Lendas Amazônicas" do artista acreano Marco Lenísio

21 de abril de 2008

A Bela ManYoca


A lenda da Primeira Água, da mitologia da tribo Maué, nos diz que, a planta da mandioca teria sido formada pelo corpo de Iveroi, mulher do sapo Ó-Óc. Ao vê-la morta pelas artes mágicas dos feiticeiros Muricariua, seus tios a transformaram em mandioca doce.

A tapioca, segundo a lenda Maué, teria sido feita, ainda pelos tios de Iveroi, do feto que ela guardava nas entranhas.

Nas histórias contadas pelos mais velhos da tribo Pariqui, encontramos a lenda intitulada Moytima Uipurangaua (Origem da Plantação), que fala do nascimento de todas as plantas, principalmente da mandioca.

Elas teriam se originado dos ossos do mais belo espécime humano daquela tribo chamado Yacurutu.

Já entre os Mura, a mandioca proviria do corpo da irmã de Yacurutu, chamada Jati, que morrera revoltada contra a Tartaruga, a serviço de uma terrível Piaga, que a afogou.

Entre os Kêterêkô, povo Pareci, a mandioca surgiu do corpo da formosíssima jovem Atiôlo, em cujos longos cabelos o Uiarapuru vinha aninhar-se para passar a noite e, antes do primeiro albor da alva, acordar a natureza com a sinfonia de seu canto.

Como tudo passa sobre a terra, Atiôlo ou Mani um dia morreu e de seus restos mortais surgiu a mandioca. Já o povo Ipurinã atribuiu a uma criança o nascimento da planta.

O povo Ipurinã atribuiu a uma criança o nascimento da planta. Aliás, é a mais bonita delas todas. A filha do cacique Cauré, de nome Saíra, era a mais bela das Ipurinãtiba. Os pássaros vinham acordá-la ao amanhecer e as flores curvavam-se à sua passagem; os espinhos evitavam-na.

Um dia, porém, ela engravidou sem ter sido dada em casamento a nenhum guerreiro.

O desgosto de Cauré foi imenso! Chamou a filha Saíra e questionou-a sobre o pai da criança. Saíra emudeceu. A decisão de Cauré foi inexorável. Ela seria banida da tribo e viveria confinada em uma oca no centro da mata, de onde só sairia após a delivrance e da morte do fruto proibido.

Quando a lei imutável da natureza completou o seu ciclo, nasceu uma menina. Pele alva, olhos azuis como o mais profundo céu, cabelos louros como espigas de trigo sazonadas, causaram deslumbramento em Saíra e Cauré. Este último, ao ver a beleza da neta, esqueceu a vontade de matá-la e caiu de amores pela menina.

Cauré, Saíra e Mani (este foi o nome dado a menina) regressaram para a tribo e daí por diante o velho cacique ficava horas esquecidas em êxtase, contemplando a radiosa beleza de Mani.

Passaram-se quatro épocas das chuvas e Mani ficava cada vez mais esplendorosa.em sua formosura.

U’a manhã de sol radioso, mas silenciosa, Mani expirou, ante o desespero impotente de Cauré.Era costume da tribo Ipurinã cremar seus mortos. Cauré quebrou a tradição e enterrou Mani na entrada de sua oca.

Passaram-se quatro luas e da terra em que Mani foi enterrada nasceu uma planta que, depois de um certo tempo, desnudou-se das folhas. Cauré julgava que as folhas fossem eternas e ficou triste pois a planta havia morrido. Resolvendo arrancá-la, ao fazê-lo, viu surgir, à guisa de raízes, grandes tubérculos radiculares. Curioso, resolveu morde-la e, ao mastigá-la, achou-a deliciosa.


Conheça o artigo completo na revista Nosso Pará. Pintura da Série "Lendas Amazônicas" do artista acreano Marco Lenísio.

Lembranças do Jordão




Comemorando hoje o primeiro aniversário deste blog, versos de "Assim Falou Zaratustra", de Nietzsche, citado pelo sábio Rubem Alves em seu "Gestação do Futuro", agradecendo a todos os leitores reunidos nessa nossa roda e nessa rede de união dos povos:

"Acordem e ouçam,
vós que sois sozinhos!
Do futuro vêm ventos de secretas asas;
e as boas novas são ditas a ouvidos delicados.
Vós que hoje sois sozinhos,
vós que estais vos retirando,
vós um dia sereis o povo.
Verdadeiramente, a Terra ainda será um sítio de redenção.
E mesmo agora uma nova fragrância a envolve,
trazendo salvação... e uma nova esperança."

20 de abril de 2008

Ação Pankararu

"Com a borracha da negligência e da corrupção, apagam do papel nossos direitos Constitucionais. Mas, com o lápis da sabedoria e da esperança escrevemos nossa história cada vez mais forte, com a cultura, crença, dignidade e tradição. Isso, pode ter certeza que nunca apagarão!"

Edcarlos (Carlinhos Pankararu)
edpankararu@yahoo.com.br

18 de abril de 2008

Semana do Índio no Acre



17 de abril de 2008

Entrevista com Shanê Kaxinawá

Shanê Inu Bake Hunikuin, nos documentos brasileiros registrado como Gustavo Mateus, é um jovem hunikuin que quer estudar em Rio Branco, capital do Acre. Hoje entre uma colherada e outra de chilcano do restaurante peruano da cidade, quis entrevistá-lo:
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Qual o nome da aldeia em que mora sua família?
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- Aldeia São Joaquim no registro da Funai, mas que a gente chama Maloca Hunikuin. Fica a duas horas de subida do rio Jordão a partir da sede do município de Jordão. Lá vive meu pai, Agustinho Manduca Muru, minha mãe Dani ou Mazinilda Sena, e meus irmãos Siã, Isaká, Busam, Itzairú e Aiane.
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Como foi a decisão de você vir pra Rio Branco?
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- A primeira vez eu planejei com meus outros irmãos, porque meu pai tem muitos amigos aqui e já viajou por vários lugares. Aí precisamos ter um lugar pra vender nosso artesanato, e conversei com o prefeito do município que organizou pra nós chegar em Tarauacá, e de lá o governo ajudou a vir pra Rio Branco de avião. Fiquei seis meses e meu pai e meus irmãos viajaram pra São Paulo e Rio de Janeiro pra vender artesanato. Aí na volta fiquei cinco meses na casa da amiga Marinete estudando computação. Isso foi em 2007. Agora estamos vendo de colocar a nossa própria loja, porque fui escolhido pela Federação Hunikuin para negociar com os produtos da nossa cultura.
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Você se adaptou fácil à vida da cidade? Sente falta da vida na aldeia?
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- Aqui em Rio Branco a principal dificuldade é que tudo a gente tem que ter dinheiro. Já fui no Rio de Janeiro, fiquei uns vinte dias na casa do meu primo Banê que mora lá, achei legal, gostei de conhecer o mar, já logo que cheguei fui lá ver a praia, mesmo de noite. Aqui o que acho falta da aldeia é nadar no rio, caminhar na mata, as festas da nossa cultura, mas aqui tem mais condições de estudar então eu me esforço pra ficar.
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Como está o movimento do artesanato do Jordão?
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- Aqui estamos organizando. Primeiro quem trouxe foi o Siã (Osair Sales), depois ficou parado, nem o couro vegetal que foi um bom negócio a gente tá produzindo mais. Precisamos de novos projetos, eu mesmo estou com um grupo de quinhentos jovens pra produção do artesanato, e minha irmã Aiane foi indicada pela comunidade pra organizar os grupos de mulheres também. Então agora aqui em Rio Branco temos bolsas, faixas, tapetes, cestos, pulseiras, colares, e lá no Jordão os jovens estão produzindo flexas, bordunas, flautas e maracás. Queremos colocar na internet um catálogo dos nossos desenhos chamados kenê e das cores que tingimos a linha com pigmentos naturais, pra poder receber encomendas de peças pra decoração de casas também, como cortinas, toalhas de mesa, capas de almofada e colchas de cama, do tamanho e nas cores que o cliente quiser comprar.
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E o kambô, você aplica também?
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- Kampum, que a gente chama, eu aplico também. Na época das chuvas aqui o kampum canta e aí a gente acha ele fácil pra tirar o "shuku", daí a gente deixa secar nas varinhas e daí pode guardar uns seis meses, servindo pra várias aplicações. Aqui em Rio Branco as próprias pessoas procuram a gente pra receber o kampum.
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Como você vê o movimento indígena aqui no Acre?
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- Tem muitos jovens estudando aqui em Rio Branco, jaminawás, manchineris, apurinãs, dentre outros. Eu não sei como eles passam porque o apoio do governo é fraco, e pra sobreviver tem alguns que eu vejo tirando coisas do lixo, o que é muito triste pensando em como nas aldeias a gente tem de tudo. Tem ongs como a CPI que dão curso pra formação de professor, de enfermeiro... Eu fiz curso no Sebrae também pra trabalhar produtos, formar empresa, e agora estudo música na Usina de Arte com o professor Roberto, e está sendo bom..

Você tem vinte anos de idade, como você espera que seja o seu futuro e o dos seus parentes hunikuins?

- Vejo que agora a gente tá melhorando, antes teve massacre e perseguição quando os brancos chegaram, mas graças aos meus parentes como Suero, meu pai Muru, Getúlio e Siã, agora temos nossa terra, tem trinta aldeias só no Jordão (Alto Jordão, Baixo Jordão e Seringal Independência) e cada aldeia está fazendo sua cupixaua, trabalhamos pelo resgate da nossa cultura. Meu pai mesmo é representante da pajelança das três terras indígenas do Jordão, estamos trabalhando com o pessoal de lá fazendo curas e ensinando nossas histórias para as crianças de lá, e quero que nosso trabalho de comercialização do artesanato permita a gente ficar mais unido dos outros kaxinawás, como os do Envira, do Humaitá, do Purus, e também os que estão no Peru.

Para ver fotos do Katxátirim, clique aqui. Contatos com Shanê pelo e-mail: shanehunikui@gmail.com

15 de abril de 2008

Alexei Pino em Rio Branco

Contatos com o artista: intipunchao@gmail.com

13 de abril de 2008

Canções dos espíritos


Documentário work-in-progress sobre curação e folclore amazônico. O famoso Etnobotanista James Duke participa desta produção da JAMM - "Jungle Alliance for Medicine and Music", ong peruana.

Fonte: JAMM

Lula e as nações indígenas brasileiras

Na foto, ao microfone, vemos Lula discursando no Congresso dos Povos da Floresta. Sentados, da esquerda para a direita, estão Maurício Waldman (Comitê de Apoio aos Povos da Floresta de São Paulo), Avelino Ganzer (Departamento Rural da CUT), Osmarino Amâncio (Conselho Nacional dos Seringueiros) e à direita de Lula, Marcos Terena (União das Nações Indígenas).

Em entrevista na Holanda semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou a idéia de haver nações indígenas em território nacional, referindo-se à terra indígena Raposa Serra do Sol:

- Nós queremos resolver os problemas dos índios, resolver o problema de Roraima e resolver o problema de terra, no Brasil, pacificamente. Não. Não tem nação indígena. Dentro do território nacional nós iremos demarcar as terras indígenas, iremos cuidar, mas a soberania do território é do Estado brasileiro.

A respeito, vale a pena lembrar aqui a íntegra da declaração final do III Fórum Permanente dos Povos Indígenas da Amazônia , realizado de 28 a 30 de novembro de 2007, em Porto Velho, Rondônia:

Nós lideranças, representando os diversos povos e organizações indígenas dos 9 estados da Amazônia Legal, acompanhados por lideranças de outras regiões do país e de países amazônicos, por representantes de entidades indigenistas e socioambientais, do Ministério Público Federal e de outras instituições solidárias com as nossas lutas, convocados por a nossa instância máxima de articulação, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), para participar do III Fórum Permanente dos Povos Indígenas da Amazônia, realizado em Porto Velho, Rondônia, de 28 a 30 de novembro de 2007, preocupados com o quadro de desrespeito aos nossos direitos sob o olhar omisso, a conivência e o descaso do Governo Lula, vimos de público manifestar.

O Governo Brasileiro, contrário às promessas manifestadas pelo Presidente Lula, por ocasião da instalação da Comissão Nacional de Política Indigenísta (CNPI), em abril de 2007, no sentido de corrigir as falhas de seu primeiro mandato, visando atender as demandas dos povos indígenas, tem se voltado claramente a atender os interesses de setores econômicos e políticos poderosos que compõem a sua base de sustentação.

Dentre os feitos que caracterizam essa opção citamos:

1. A determinação do Governo Lula de implantar empreendimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como hidrelétricas (nos Rios Xingu, Madeira, Machado, entre outros), rodovias e hidrovias, sem se importar com os impactos que poderão ter sobre o meio ambiente, a diversidade sócio-cultural e a biodiversidade, preservada até hoje pelos povos indígenas, comunidades tradicionais, ribeirinhos e quilombolas. O favorecimento do grande capital, do latifúndio, da agroindústria, das empreiteiras e de outros setores econômicos e financeiros, configura-se como uma re-colonização dos nossos territórios, ameaçando gravemente a nossa integridade física e cultural, a continuidade dos nossos povos. Territórios Indígenas serão alagados, e povos voluntariamente isolados nas regiões do Rio Xingu e do Rio Madeira serão impactados pelos complexos hidrelétricos previstos pelo Governo, configurando um projeto claramente ecocida, etnocida e genocida irreversível. Os nossos territórios e as florestas conservadas em pé por nossos povos constituem hoje barreiras contra o desmatamento e a degradação ambiental, além de contribuírem significamente para conter o aquecimento global, as mudanças climáticas, que hoje ameaçam a vida da humanidade e do planeta. Dessa forma constituem um componente imprescindível de qualquer estratégia global de conservação e uso sustentável da Amazônia, mas o governo cegado por uma visão economicista ignora essa nossa vital contribuição. Em função disso repudiamos a exclusão dos nosso povos da discussão do modelo de desenvolvimento que ser quer para a Amazônia e rechazamos a intenção de nos caracterizar como empecilhos ao desenvolvimento. Os povos indígenas não são contra o desenvolvimento mas interessa saber qual tipo de desenvolvimento, isto é, se favorecerá às massas empobrecidas e excluídas, com suas diferenças e especificidades socioculturais. Por isso enfatizamos: desenvolvimento sim, mas a qualquer custo não!

2. Contrariando acordo consensuado com os representantes do Governo na Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), segundo o qual o tema da mineração em terras indígenas seria discutido como parte do Estatuto dos Povos Indígenas, a sua base de sustentação no Congresso Nacional instalou uma Comissão Especial, na Câmara dos Deputados, para discutir o projeto de lei (PL) 1610/96, do senador Romero Jucá, que trata da matéria. No mesmo sentido o senador Augusto Botelo apresentou no Senado PL para discutir a mineração nas terras indígenas.

O Encaminhamento em ambas as cassas não só desrespeita a decisão de uma instância instituída por decreto presidencial, após intensa pressão do movimento indígena, mas sobretudo burla uma reivindicação pleiteada há mais de 14 anos pelos povos indígenas do país, e ratificada pelo Acampamento Terra Livre, no Abril Indígena de 2007, mobilização indígena nacional, representativa dos povos indígenas de todas as regiões do país. Frustra mais uma vez a expectativa depositada no Governo Lula, que tentou reafirmar, em 19 de abril de 2007, os compromissos de campanha não cumpridos no seu primeiro mandato e que seriam viabilizados no atual.

3. Da mesma forma, o Governo Lula publicou a Portaria 2656, de 17 de outubro, que regulamenta o atendimento à saúde indígena, envolvendo o repasse de recursos às prefeituras municipais, sem antes ter havido uma ampla consulta aos povos e organizações indígenas, nem mesmo aos membros da Comissão Nacional de Política Indigenísta. Em quanto isso, o drama da saúde indígena continúa, com o alastramento de doenças como a malária, hepatite, parasitoses, desnutrição e mortalidade infantil.

4. O Governo mobiliza com muita agilidade o judiciário e a polícia federal quando por descontentamento os nossos povos e organizações decidem ocupar prédios governamentais, mas isso não acontece quando se trata de desintrusar os nossos territórios, como a Raposa Serra do Sol, em Roraima, e Maraiwatsedé, em Mato Grosso, livrando-nos assim da usurpação, das ameaças e violências praticadas pelos invasores: madeireiros, fazendeiros, garimpeiros, traficantes, pescadores ilegais e biopiratas, entre outros.

5. Por defender o seu território, lideranças nossas são presas arbitrariamente e algumas assassinadas. Só no ano de 2007, até o mês de novembro, foram assassinados 61 parentes nossos, 38 somente no estado de Mato Grosso do Sul. No entanto, o poder público, a justiça brasileira não mostra interesse algum em apurar, julgar e condenar os responsáveis.

6. O Governo brasileiro é o primeiro a descumprir as leis que garantem aos nossos povos indígenas o tratamento diferenciado, tanto a Constituição Federal como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Convenção sobre a Eliminação e Combate a Discriminação Racial, instrumentos já incorporados à legislação nacional.

Diante destes fatos exigimos do Governo Lula coerência e vontade política para se voltar aos distintos segmentos que o elegeram, não perdendo a oportunidade de passar para história como o presidente dos pobres, dos índios, negros, sem terra e demais setores excluídos pelas elites deste país.

Reafirmamos a nossa determinação de continuar lutando, para que sejam respeitados efetivamente os nossos direitos, mediante a execução do plano de lutas definido por este III Fórum Permanente dos Povos Indígenas da Amazônia, que inclui entre outras, a reivindicação de que o Governo não tome quaisquer medidas administrativas, jurídicas e políticas que nos afete sem antes garantir o nosso direito ao consentimento livre, prévio e informado, conforme estabelece a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Declaração da Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas.

Porto Velho-Rondônia, 30 de novembro de 2007.

Fonte: Araceli Lemos , Maurício Waldman e O Globo.

11 de abril de 2008

Cúpula Amazônica contra a Lei de Selva

Foto: Theo Allofs (Alemanha) para "The Wildlife Photographer of the Year Competition 2004" organizado por Natural History Museum e BBC Wildlife Magazine.

Hermanos y Hermanas Nativos de las Etnias Culturas Amazónicas: Kandozi, Kukama-Kukamiria, Tikuna, Shawi, Awajum, Bora, Huitoto, Urarina, Wampi, Secoya, Shiwilu, Nomatsiguenga, Shipibo-Konibo, Asháninka, Awajun, Napo-Kichwa, Canelo-Kichwa, etc
Hermanos SAKÉ THIATS YAMPIS, ANDRES SANDI MUCUSHUA:
Hermanos de ACHUARTI IRUNTRAMU - ATI (Achuar Reunidos), ORACH, FENAP, COBNAEP, FECONACO, FREDEDAM, CORPI, FENAP, FORMABIAP, Consejo Aguaruna y Huambisa:
Hermanos y Hermanas ACHUAR (Gente de la Palmera Aguaje) y KICHWA, ANDOAS, 12 de Octubre y de la Provincia de DATEM:
Hermanos de los Vicariatos Apostólicos de Iquitos y San José de Amazonas:
Hermanos de la Red Ambiental Loretana:
Hermanos de los Frentes de Defensa de las regiones de la Amazonía:
FANY, Hermanos y hermanas de ADISVIR, Villa Rica y Chontabamba:
Hermanos y Hermanas, Padres, Madres y Familiares de Personas con Discapacidad:

Reciban nuestros más cordiales saludos a todos
TSAWARUMEK (Buenos días en Achuar)
LLANAPAYTAKUNA (Amigos en Mashigengha)
WAIMAIAKU AÉÉNTS (Gente de grandes poderes en Shuar)

Permítannos en primer lugar reconocer el esfuerzo por convocar y realizar esta II Cumbre Amazónica en momentos que los grandes intereses de las empresas transnacionales petroleras, mineras, forestales, farmacéuticas, etc. hacen y harán todo lo posible para apoderarse de los terrenos y de los ríos de la amazonia de Perú, Ecuador, Colombia, Bolivia, Brasil, Venezuela y tantos otros lugares, y no dudarán en enfrentarnos a pueblos históricamente hermanos herederos de la ABYA YALA, (LA AMERICA, LA PATRIA GRANDE), sus ansias y codicias seguirán sembrando la injusticia, la violencia, la muerte, la enfermedad y la discapacidad entre nuestros hijos e hijas.

Esta segunda cumbre ratificará lo acordado en la l Primera Cumbre Amazónica desarrollada en Pichanaki, Chanchamayo (Junín) los días 16 y 17 de Febrero del presente, en particular dejar sin efecto el tristemente “célebre” Proyecto de Ley 840/2006 PE ("Ley de Promoción de la Inversión Privada en Reforestación y Agroforestería", conocido como la “Ley de la Selva”), contra los dispositivos 1770, 1992 y 2133, pues éstos atentan directamente contra la vida, contra todas los riquezas naturales que hoy son patrimonio de las grandes extensiones de nuestras tierras amazónicas.

Igualmente habrá de nutrirse y ratificar lo acordado en el Foro: “Comunidades, Minería y Recursos Naturales”, realizado el día 4 de Abril en Huamanga, Ayacucho. Es decir exigir al gobierno a que se debata de forma responsable la ley de aguas, a que se respete el Convenio 169 de la OIT, a que se rectifique la política minera y petrolera. A resguardar la biodiversidad, el medio ambiente, la amazonía, las comunidades campesinas y nativas, nuestros ríos y la agricultura.

Igualmente a que se implemente y se cumplan como instrumentos vinculantes tanto la Declaración de las Naciones Unidas sobre los Derechos de los Pueblos Indígenas y la Convención Internacional de los Derechos de las Personas con Discapacidad, esta última entrará en vigencia el día sábado 3 de Mayo del presente.

Los PUEBLOS, ETNIAS, CULTURAS ANDINAS, COLLAS, AYMARAS, AMAZONICAS, ALTIPLANICAS y AFRO DESCENDIENTES somos herederos históricos de estas tierras, sin embargo entre otros grupos sociales somos las últimas ruedas del coche y según quienes saquean nuestras tierras debemos continuar permaneciendo en silencio; mientras sus ansias y codicias petroleras y mineras van contaminando los ríos, la tierra, van sembrando la muerte y la injusticia, van produciendo más Personas con Discapacidad.

Como lo señalan claramente nuestros hermanos de los siete Pueblos Indígenas y Comunidades Campesinas de la Provincia de Datem, Marañón:

“LOS PUEBLOS INDÍGENAS HEMOS RECLAMADO POR MUCHOS AÑOS LA CONTAMINACIÓN DE NUESTROS RÍOS PRODUCTO DE LA ACTIVIDAD PETROLERA, SIN QUE LAS AUTORIDADES REGIONALES Y NACIONALES HAGAN ALGO PARA REMEDIAR ESTE PROBLEMA, POR EL CONTRARIO, HOY EN DÍA VUELVEN A AMENAZARNOS CON LOS PROYECTOS DE LEY QUE PRETENDEN EXPROPIAR NUESTROS RECURSOS NATURALES Y NUESTRA TIERRA”

Ante esta voracidad sin limites, todo es permitido para sus intereses, y no van a parar, y someten a diferente autoridades de diferentes niveles con el fin de legalizar el abuso, el saqueo y la rapiña de nuestros sagrados terrenos, de nuestros APUKUNA, de la madre tierra, del agua, de nuestros recursos, fauna y flora, y es que para quienes nos engañan, lucran, para quienes desean vernos como mendigos recogiendo las migajas de sus saqueos, no les importamos, sus objetivos son robar y rematar todo lo que se pueda, exterminarnos a quienes se lo impidamos, aislarnos y dejarnos finalmente en silla de ruedas, muletas, y con bastones a los sobrevivientes.

Los únicos culpables de lo que viene ocurriendo en nuestros pueblos, en particular en Cajamarca, en Loreto, en la cuenca del río Corrientes, en Andoas, los culpables de la muerte de nuestro hermano policía de Ayacucho en Andoas, del dolor de sus familiares (a quienes expresamos nuestra solidaridad), de la detención ilegal e injusta de 52 personas son quienes sentados cómodamente en sus despachos emitieron las órdenes y han mandado a reprimir con helicópteros, con bombas y con hermanos policías de otras regiones, y acallar a quienes defendemos la vida, mientras salían a través de los medios de comunicación a derramar mentiras. Todo al amparo del Decreto Legislativo Nº 982, dispositivo que modificó el Artículo 20 del Código Penal, dispositivo que en nuestro país legalizó el DERECHO A LA MUERTE, AL ASESINATO, AL GENOCIDIO y AL HOMICIDIO INIMPUTABLE.

Adjunto van diversas informaciones que amplian lo que está ocurriendo en Loreto.

La denodada y desigual lucha de los pueblos amazónicos que hoy defendemos la vida es estratégica y constituye eje central de nuestras reivindicaciones históricas, pues con ello evitamos que se siga contaminando la naturaleza, que es una de las causas del incremento del número de personas enfermas y de Personas con Discapacidad, en especial nuestros niños y niñas.

Cada día que pasa se van cumpliendo las palabras de nuestro José María Arguedas escritas en: “Tupac Amaru Kamaq Taytanchisman; haylli-taki”: “Del movimiento de los ríos y las piedras, de la danza de árboles y montañas, de su movimiento, bebemos sangre poderosa, cada vez más fuerte”.

Amamos la vida, amamos la naturaleza, los ríos y la tierra, deseamos el diálogo y no la muerte, ni el saqueo, ni la contaminación, ni mucho menos la represión.

Sigamos caminando y navegando, persistamos con fe y esperanza en organizarnos eficientemente para seguir sembrando amor, justicia, conciencia y paz.

Sigamos defendiendo la vida, derrotando y transformando la discapacidad, así continuaremos construyendo LA PATRIA GRANDE, ACCESIBLE e INCLUSIVA.

TENEMOS EL DEBER Y EL DERECHO A SER SUJETOS HISTORICOS DE NUESTRO DESTINO y a PARTICIPAR EN LA CONSTRUCCION DE UN ESTADO EFICIENTE, DONDE LA TRANSFORMACIÓN DEL MISMO ES ANTE TODO UNA CUESTION DE DERECHOS, y así digamos juntos:

UN MUNDO MEJOR, JUSTO Y EQUITATIVO ES POSIBLE
¡¡¡ TODO CON NOSOTR@S, ........ NADA SIN NOSOTR@S !!!
¡¡¡ NOKANCHISWA, ... MANAN NOKANCHISWA !!! (QH'eswa)
¡¡¡ LLAPALLAN ÑUQANCHIKWAN. .. MANA ÑUQANCHIKWANQA PIPAS !!! (QH'eswa Wari-Chanka)
¡¡¡ NUQANTSIKWAN LLAPAN RURAKAN... MANA NUQANTSIKWANQA !!! (QH'eswa Chavín)
¡¡¡ ÑUQAYKUWAN TUKUY IMAPAS... MANA IMPAS MANA NUQAYQUWANQA !!! (QH'eswa Puno)
¡¡¡ TAKI NANAKA... HANI CUNAS NANAKA !!! (Aymara)
¡¡¡ MAARONI AISATI ARORIPEENI.. . TEKATSI TEMPA ARORIPAYENI !!! (Ashaninka-01)
¡¡¡ MAWENI ARORIPEE ANTSIPATARI. .. TERIKA ANTE KARI ANTSIPATAJEITI !!! (Ashaninka Pichis)
¡¡¡ ASHI JUTIJAIG ATATJUM ..... ATSA ATUMKEK ATATJUM !!! (Awajun)
¡¡¡ OPA MBA'E ÑANENDIVE... MBA'EVE ÑANDEREHE'Ŷ !!! (Guarani)
¡¡¡ INCHIN ENGUN... INCHEN ENGUNO !!! (Mapuche)
¡¡¡ GUA'OMA TOMA COA... GUA'OMA HAMAKORO !!! (Taino)
¡¡¡ ASHI JUTIJAIMAK.. . JUTIJAINCHUK ATSAWAI !!! (Shuar)
¡¡¡ YA' IPI KANPUARE... KU MANTA KANPUAREWE !!! (Shawi)
¡¡¡ MASHI IJIE... ATSA IJENCHUKA !!! (Wampi)
¡¡¡ EVERYTHING WITH US... NOTHING WITHOUT US !!! (Inglés)
¡¡¡ ALLES MIT EUS…NÜT OHNI EUS !!! (Suizo)
¡¡¡ TOUT AVEC NOUS… NEN SAN NOUS !!! (Francés)
¡¡¡ ALLES MIT UNS… NÍCHTS OHNE UNS !!! (Alemán)
TODOS COM A GENTE... NINGUÉM SEM A GENTE! (Brasileño)
Fontes: La Republica e RPP

Besteirol global na tv brasileira

Sem comentários!...

8 de abril de 2008

Sabedoria

"Só quando a última árvore for colocada abaixo, só quando o último rio for envenenado, só quando o último peixe for capturado, só então vocês compreenderão que o dinheiro não presta para se comer".
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(Profecia Cree)
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Tom Perkinson



"Vejo minhas pinturas visionárias como uma exploração da espiritualidade universal e como uma pesquisa sobre o equilíbrio da natureza. Busco criar a personificação de um espírito, ou ser mítico, refletindo minha admiração com a cultura nativa americana, cujas crenças e rituais me inspiram e mexem comigo. O conceito ameríndio dse que todas as coisas estão conectadas é significante e caminhos misteriosos me fascinam, e é um conceito que estou continuamente integrando nestas obras. Eu acredito que este trabalho é principalmente sobre balanço e harmonia. Eu costumo aludir à simetria, mas o imaginário não é completamente simétrico. Estou dedicado a adquirir um balanço harmonioso entre eixos claros, formas geométricas, muito poucas áreas organicas perdidas. e a figura central. Eu integro padrões geométricos, principalmente o círculo e partes dele, o triângulo, juntando com pictografias, flexas, mãos, espirais, e muitos outros símbolos arquetípicos que a humanidade utilizou ao longo de sua história cultural. Mesmo que estes símbolos que eu escolho tenham um apelo universal, eles possuem umasignificação pessoal para mim que os desenvolvo durante o processo de pintura, e eles são alterados por minha imaginação interna."

Dádiva versus Barganha

Arte de Joe Maktima

"Acostumamos-nos a ver todas as nossas relações como trocas, sejam elas igualitárias ou não, mas nos esquecemos que as relações também podem ser vistas como simples oferendas onde nada específico está sendo pedido em troca. É o dar sem esperar receber.

Nossa relação original com a natureza não era uma troca, embora ela aconteça, era dádiva. A natureza oferece a vida, pura e simplesmente, como dádiva ou dom. A dádiva é gratuita, não gera dívida, não exige retorno, é como o carinho que pais oferecem aos seus filhos. Você não barganha com você mesmo, o que você faz para si mesmo é dádiva. Uma parte do seu corpo não negocia com a outra antes de fazer algo. Pelo mesmo motivo, a natureza não negocia com ela mesma, e a natureza é o conjunto de seres vivos, nela não existe barganha. As relações de troca começam com a separação entre consciências.

A troca envolve barganha, e numa barganha é possível sair na vantagem ou na desvantagem. Isto cria expectativas que por si só acabam gerando relações desiguais. Na relação da dádiva não cabe o conceito de produção, produto ou mercadoria. A comida não é produzida pelo trabalho, ela é dada pela natureza. O único trabalho que temos é o de aceitar e pegar o que é oferecido. Por isso não faz sentido falar em aumento da produção ou da efetividade da produção. Se você quer pegar mais, ou você precisa de mais, ou você tem outra relação com a natureza. E se os seres humanos sempre precisaram pegar mais do que pegavam há 10 mil anos atrás, como sobreviveram por 250 mil anos, sem nenhuma tecnologia “pegadora”? Obviamente pegávamos tanto quanto precisávamos. O que temos produzido é excesso, e o excesso é resultado de uma sociedade de escassez.

A natureza, por sua vez, não exige dos seres nada que eles não dêem pelo prazer de dar, ou seja, não exige retorno, nem sequer sentimental. A idéia de que "você colhe o que planta" depende do conceito de produção. Embora ela seja vista como uma versão da lei de ação e reação, o que ocorre na natureza não é tão mecânico. Os seres evoluíram com uma função para o meio que deu origem a eles. Eles não precisam se esforçar para retornar ou pagar à natureza aquilo que ela os deu. Eles o fazem tão naturalmente quanto respiram. Retribuem pelo prazer de retribuir, e não pelo dever. Por exemplo, respirar já é uma dádiva, o gás carbônico é dado à atmosfera e as plantas o respiram, mas elas já davam oxigênio antes de haver seres para respirá-lo. A natureza nos dá o que precisamos para viver e em retorno só precisamos viver. No entanto, na atual situação, até isso se tornou difícil. A civilização tem afastado o homem de sua própria humanidade, o que o impede de viver como um ser humano e exercer as funções que o ser humano tem no seu habitat.

Por função entendo funcionamento, e não emprego. Um ser não pode ser separado de sua função sem deixar de ser o que é, assim como uma chave não pode perder a função de abrir a fechadura sem perder aquilo que a caracteriza como chave, ou seja, as informações intrínsecas de sua forma e estrutura. É isso que está em jogo na civilização, estamos perdendo a forma humana, ou aquilo que Aristóteles, sem se referir à metafísica, chamaria de alma. A alma, para ele, é nossa função biológica, que se perde quando morremos, mas aparentemente também quando nos afastamos da natureza.

Doar é espontâneo e não coercitivo. Mesmo quando ocorre equilíbrio entre coisas doadas, ele ocorre sem que se perceba ou se calcule isso, O planejamento e o controle das vias de entrada e saída de matéria e energia entre o sistema humano e o não-humano inevitavelmente levará a um desequilíbrio. Nossa mente não foi feita para lidar com esse sistema complexo e dinâmico, pois ele surgiu e só se mantém pela interação flutuante e aparentemente caótica da natureza. A interferência humana provavelmente só pode comprometer o fluxo natural das coisas.

O prazer é motor da dádiva, ao contrário do dever. Por um lado o prazer de receber sem ter que dar nada em retorno é muito maior que o prazer de adquirir algo que vem com uma cobrança, ou da mera troca de algo por outra coisa de igual valor. Mesmo aquelas pessoas que acreditam no acúmulo de bens sentem prazer quando ganham algo. Numa relação comercial justa nada seria ganho, mas o prazer da negociação parece ser o lucro, o que representa aquilo que está sendo ganho por fora. No entanto este prazer depende do prejuízo de outro. O sistema tentou resolver esse problema fazendo com que a classe mais baixa desse valor a coisas diferentes. Assim, o pobre é levado a valorizar o trabalho duro, e não o dinheiro, enquanto o rico pode valorizar o dinheiro e o conforto. Isso ajuda a manter a relação em que o pobre oferece dinheiro e conforto ao rico, e o rico recebe o que quer dando trabalho e condições mínimas de felicidade ao pobre.

Numa sociedade baseada na dádiva ao invés da barganha, as necessidades são satisfeitas sem que ninguém tenha que negociar e sem que haja uma estrutura de valores controlando o conflito entre gastos e ganhos. Esta competição se torna desnecessária, e de fato a competição intra-espécie não é natural, mas cultural, e sintoma de má adaptação ao meio. Não é resultado de nossa evolução, mas sim de contingências criadas por nós para certos propósitos. Propósitos que, por mais que tenham se infiltrado profundamente na estrutura de nossa sociedade, podem e devem ser criticados.

Onde tudo é dado não há espaço para o conceito civilizado de propriedade. Pois ainda que algo tenha sido confiado a alguém, não é próprio de desta pessoa. É primeiramente uma relação entre ela e aquele que a presenteou. A relação entre o tempo presente, o presente que é dado de um para outro, o dom de alguém e o dado no sentido de fato não é acidental. A dádiva ocorre sempre no tempo presente, ela não se estende para um tempo futuro, pois isso já criaria uma dívida. Também, assim como um dom ou um talento, o que é dado só faz sentido enquanto for usado. O que não é usado está guardado para um tempo futuro, o que quebra com a presença do dado enquanto fato observável.

Algo dado só se torna propriedade quando se torna realmente próprio do ser, e não pode mais ser tirado dele por qualquer meio. Por exemplo, quando o alimento é comido se torna parte das propriedades ou atributos do ser. Ao instituir que objetos externos podem ser considerados como propriedades de uma pessoa, como uma extensão de seu ser, é como se nos tornássemos seres assimiladores. Assim, crescemos na medida em que conquistamos coisas. O conjunto de coisas que temos se torna cada vez maior, e na medida em que nossa dependência desses objetos cresce, cresce também nossa dependência de sistemas mais efetivos de acumulação, o que nos torna mais parecidos com máquinas e menos parecidos com seres vivos.

Tornamo-nos mais mecânicos que orgânicos porque, se os objetos que acumulamos fazem parte de nós, somos compostos de partes sem relação orgânica, pois objetos físicos não têm relação orgânica entre si. A relação entre objetos é mecânica, como as peças de um relógio. Também porque somos obrigados a reproduzir os comportamentos que sejam mais efetivos à acumulação, o que nos submete às regras matemáticas e econômicas que privam nossa liberdade e nossa criatividade. E por último porque se nossa extensão artificial determina nossa sobrevivência, então sobrepujamos valores orgânicos e equilibrados por valores tecnológicos, que são expansivos e insustentáveis.

Também poderíamos pensar sobre o ato de pedir, seu significado e sua origem. Pedir é a origem da pergunta. O pedir numa sociedade de dádiva é como pedir um carinho. Não é uma exigência, é antes um convite. O roubo é raro numa sociedade de dádiva, não porque haja um bom sistema de segurança ou uma moralidade superior. O roubo não ocorre porque sociedades de dádiva são sociedades de abundância. Alguém rouba porque deseja mais do que tem, e porque outro possui aquilo que ele deseja. Numa sociedade de abundância, tudo que está disponível está disponível para todos, e o que não está disponível não está disponível para ninguém. Pois o que a natureza dá, ela dá cegamente, sem privilegiar convenções humanas, como o status social. Se na civilização há classes privilegiadas, isto não ocorre por natureza, mas por divisão e distribuição dos bens dentro da estrutura da sociedade.

E esta estrutura, por si só, não é um resultado inevitável do desenvolvimento humano. Ao contrário, esta cultura nega aquilo que foi desenvolvido pela maior parte do tempo em que o homem caminha neste planeta. Se hoje vivemos numa sociedade de escassez, isso se deve em primeiro lugar à substituição da dádiva pela barganha como modelo de relação entre humanos e seres vivos, e não do desenvolvimento da espécie humana ou das relações sociais humanas, seja por fatores ambientais ou biológicos.

A dádiva é a relação primordial entre homem e natureza, deve ser colocada novamente em seu lugar se desejamos não nos afastar da natureza até nossa extinção, e isso não irá acontecer sem nos opormos à civilização como um todo."

Fonte: Janos Biro em Sociedade Tribal

6 de abril de 2008

Água suja


A paciência das comunidades indígenas peruanas que habitam na bacía do rio Corrientes, que atravessa o departamento de Loreto, no norte do país, se esgotou. Não é para pouco.

Pesquisas feitas pelo Ministério de Saúde peruano revelaram que 98,6 porcento da população da zona têm no sangue mais cádmio do que o aceitável, e que 66,2 porcento das crianças de 2 a 17 anos apresenta níveis de chumbo excessivos. O mesmo ocorre com 24 porcento da população adulta.

As causas são bastante claras. As empresas petroleiras que agem na zona há 35 anos contaminam a água do rio Corrientes, que as comunidades usam para beber e em diversas tarefas diárias. A presença de metais pesados no sangue dos moradores representa graves riscos para sua saúde.

Conforme Cecilia Remón numa notícia publicada pela agência boliviana Bolpress, na bacía do rio Corrientes vivem 32 comunidades indígenas achuar, quichua e urarina, que reunem 7.800 habitantes. Essas comunidades estão representadas pela Federação de Comunidades Nativas do Rio Corrientes.

Na década de 1960 as terras dessas comunidades ficaram dentro de dois campos de exploração petroleira, chamados 1AB e 8, que o governo entregou mediante concessão. Desde essa época agiram na zona a empresa estadunidense Occidental Petroleum, a argentina Pluspetrol e a estatal peruana Petroperú. Os dois lotes são controlados atualmente pela Pluspetrol.

“Desde que se iniciou a exploração petroleira na zona foram lançadas no rio Corrientes as águas de produção, que saem junto com o petróleo, ao invés de reintroduzi-las no poço como o estipulam os padrões internacionais”, explica Remón.

“Atualmente Pluspetrol lança diariamente ao rio cerca de 1,3 milhões de barris de águas de produção (de 159 litros cada um)”, acrescenta. Estas águas contém hidrocarbonetos, cloretos e metais pesados, como chumbo, cádmio, bário, mercúrio e arsênico, entre outros.

A meados de outubro cerca de 700 indígenas achuar ocuparam durante duas semanas dois campos petrolíferos da Pluspetrol. Exigiram ao governo que impulsione trabalhos de recuperação ambiental e melhore a atenção médica.

Os indígenas exigiram a reintrodução de 100 porcento das águas da produção, a participação e fiscalização de suas comunidades nas atividades de reintrodução e de monitoração ambiental, entre outras, e que se os consulte antes de aprovar novos campos petroleiros.

No dia 15 de outubro de 2007 indígenas, governo peruano e Pluspetrol chegaram a um acordo. Estipularam que o fim de 2008 seria o prazo máximo para a reintrodução total das águas de produção nos poços e Pluspetrol aceitou financiar um plano integral de saúde durante dez anos para os moradores afetados na bacía do rio Corrientes.

Agora a notícia que chega a público é de um novo derrame de petróleo ocorrido em março de 2008 no Distrito de Manseriche, derrame este que como muitos outros acontecem longe dos olhos da grande imprensa internacional. Leiam o manifesto de sete povos indígenas peruanos a respeito e divulguem para que seus direitos sejam respeitados!

FRENTE DE DEFENSA Y DESARROLLO DE LA PROVINCIA DATEM DEL MARAÑÓN

FEDERACIÓN DE LA NACIONALIDAD ACHUAR DEL PERU

COORDINADORA REGIONAL DE LOS PUBLOS INDÍGENAS SAN LORENZO

PRONUNCIAMIENTO

LOS SIETE PUEBLOS INDÍGENAS Y COMUNIDADES CAMPESINAS DE LA PROVINCIA DATEM MARAÑÓN, REGIÓN LORETO, PERÚ, PONE EN CONOCIMIIENTO DE LA OPINIÓN PUBLICA LO SIGUIENTE:

QUE DESDE EL DÍA JUEVES 20 DE MARZO DEL 2008 LOS PUEBLOS KICWA Y ACHUAR DEL DISTRITO DE ANDOAS, RÍO PASTAZA, DIERON A CONOCER SUS JUSTOS RECLAMOS HACIA LA EMPRESA ARGENTINA PLUSPETROL, EXIGIENDO SUS DERECHOS COMO PUEBLOS PARA QUE LAS ACTIVIDADES DE HIDROCARBUROS SEAN BAJO UNA ACEPTACIÓN DE LOS PUEBLOS Y QUE LOS SALARIOS SEAN JUSTOS PARA LOS TRABAJADORES.

DENUNCIAMOS EL ACCIONAR DE LA POLICÍA NACIONAL DEL PERÚ, QUIENES REPRIMIERON A NUESTROS HERMANOS EN ANDOAS CON EXCESIVA VIOLENCIA, ATACANDO INCLUSIVE A CIUDADANOS EN LA MISMA COMUNIDAD.

ASIMISMO, DENUNCIAMOS QUE EL PASADO 11 DE MARZO SE PRODUJO UN NUEVO DERRAME DE CRUDO EN EL KM 223 DEL OLEODUCTO NORPERUANO, CONTAMINANDO LA QUEBRADA NUMPATKAIM Y EL RIO ROJO, EN EL DISTRITO DE MANSERICHE, AFECTANDO AL PUEBLON INDÍGENA AWAJÚN.

EL PUEBLO INDÍGENA NO ATACA, PERO SI SE DEFIENDE.

LOS PUEBLOS INDÍGENAS HAN RECLAMADO POR MUCHOS AÑOS LA CONTAMINACIÓN DE SUS RÍOS PRODUCTO DE LA ACTIVIDAD PETROLERA, SIN QUE LAS AUTORIDADES REGIONALES Y NACIONALES HAGAN ALGO PARA REMEDIAR ESTE PROBLEMA, POR EL CONTRARIO, HOY EN DÍA VUELVEN A AMENAZARLOS CON LOS PROYECTOS DE LEY QUE PRETENDEN EXPROPIAR NUESTROS RECURSOS NATURALES Y NUESTRA TIERRA.

NOS PREGUNTAMOS:

¿SERÁ ESTE EL FAMOSO CAMBIO Y LOS BENEFICIOS DEL TAN PUBLICITADO TLC?

¿ESTAREMOS VIVIENDO UNA NUEVA COLONIZACIÓN EN PLENO SIGLO XXI ATENTATORIA CONTRA LOS DERECHOS DE LOS PUEBLOS ORIGINARIOS?

¿SERÁ ALAN GARCIA EL ARANA DE ESTE SIGLO?

EXIGIMOS EL RESPETO DE NUESTROS DERECHOS Y A CAMBIO EL GOBIERNO DE ALAN GARCÍA RESPONDE CON BALAS.

¿DONDE ESTÁ LA JUSTICIA SOCIAL?

FINALMENTE, SR. GARCÍA, LE RECORDAMOS QUE EL PERÚ NO ES EL FRONTÓN, Y EXIGIMOS LIBERTAD PARA LOS 52 HERMANOS DETENIDOS INJUSTAMENTE.

"CON DIGNIDAD Y JUSTICIA"

PATRIÓTICAMENTE

FREDEDAM-CORPI-FENAP

SAN LORENZO, 29 DE MARZO DEL 2008

Fontes: Hunikuin e Radio Mundo Real.

2 de abril de 2008

"O índio que levamos dentro de nós"

"Transcorreram já três anos desde que Juan, nosso primeiro paciente araucano, deixou Buenos Aires e regressou ao Neuquén. Seu 'quadro psiquiátrico' havia sido caracterizado com a etiqueta de 'neurose fóbica grave'.
Talvez pelo fato de que as culturas mais sábias requerem terapias mais sábias, Juan perambulou de profissional em profissional sem obter nenhuma melhoria. O conheci quando por sua própria decisão tinha optado por confinar-se aos limites de sua própria cama, pois este era para ele o único lugar do planeta onde não sentia medo.
Vivia ele no mesmo vilarejo no qual poucos meses atrás eu tinha decidido montar meu primeiro consultório etnopsiquiátrico. Seu tratamento durou seis meses. Dois meses depois da alta, Juan tomava a decisão de voltar a sua terra natal. Minha vida como profissional ficou dividida em duas etapas: antes e depois de Juan. Socorrê-lo em seu sofrimento me obrigou a reformular muitos conceitos sobre a ação psicoterapêutica, modificar enquadramentos e objetivos.
Em um serviço psiquiátrico haviam escrito ao princípio de sua história clínica uma nota insólita: “Paciente com falta de motivação para a cura” . Por esse motivo o deram de alta. Para a etnopsiquiatria, um paciente que não se cura implica que o terapeuta não soube aceder a uma interculturalidade fundante que permita a comunicação plena que faça possível a cura.
O tratamento de Juan demonstrou que padecia de algo mais que uma neurose fóbica. E a esse algo mais, a psiquiatria oficial - que segue pensando-se a si mesma como uma disciplina que tem muito que ensinar e pouco que aprender - não podia diagnosticá-lo.
Mais além dos intentos de tornar a Juan um fármaco-dependente, um mero número de história clínica elaborada em base a um frio interrogatório policial, ou de convertido em uma etiqueta psicodiagnóstica que todos traduziam como doença incurável, ninguém pensou que em Juan pudesse estar atuando a culpa inconsciente por haver abandonado, e portanto traído, um esquema de pensamento e uma forma de vida ancestral e sábia.
Agora Juan vive em uma paragem solitária. Suas tarefas são muitas e não existem sofisticações técnicas que o ajudem. Sua esposa aprendeu a arte de tecer no telar, viajou até uma velha índia que vive a muitos quilômetros de sua casa e ela a ensinou. A seu redor começou a produzir verdadeiras obras de arte, que, como todos os povoadores da zona, vende ao governo por uns poucos tostões.
A casa é pequena, e Juan não nos escreveu muito acerca dela. Penso que, contudo, deve ser uma boa morada, porque do contrário Juan lhe teria dedicado alguma frase irônica.

Antes de Juan, os ensinamentos dessa antropologia à norteamericana que nada me tinha dito sobre minha própria miséria simbólica. Depois de Juan, algo muito diferente a descrever a vida: aprender a vivê-la. Porque na reinstalação que empreendi em Neuquén se joga uma alquimia impossível para o ocidental: a de transformar-se de robô urbano em alguém que, ainda que com as limitações econômicas que determina o poder político ao índio de nossa terra, passa a procurar-se a ampliação de uma consciência mística inédita para a maioria de nós. E por ela, a partir de um silêncio pleno de sentidos, se busca e se encontra um eixo ou centro capaz de articular desde a identidade até o gozo, um centro que supere, como disse Kusch, o “desgarramento da queda”.
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Ao decidir sua volta ao Neuquén, Juan faz algo mais que retornar às fontes ou “regredir” (dito no pior estilo psicoanalítico): estabelece também um novo domicílio existencial capaz de outorgar coerência ou transfundo ecológico a sua nova disposição psíquica, e de brindar em um contexto grupal comunitário, diremos melhor - os elementos gestuais, rituais, calendários, nos quais descansar a vida e arrojá-la desde o elemento local a todo o universal. Juan funda assim sua particular e exclusiva geografia emocional, aquela que se dá apenas quando o arquétipo é ativado na consciência.

O arquétipo reprimido do Ocidente

Rodolfo Kusch compara em um diagrama os princípios básicos do pensamento ocidental e do indígena. Parte do evidente quadro de solidão do homem ocidental, que impregna a vida afetiva de um certo pessimismo rancoroso. A este lhe contrapõe o conceito andino de “comunidade”: o indígena cultiva a comum unidade. Seu suporte afetivo não repousa totalmente em um outro particular, mas sim em um cosmos cotidiano.
O ocidental vive em “sociedade”, não em comunidade. Na sociedade, os laços afetivos raramente transcendem as fronteiras do lar. A sociedade é tão causante de solidão como, ao contrário, a comunidade é produtora do “domicílio”, entendido (ao melhor estilo de Mircea Eliade) como esse lugar do qual brota um eixo invisível mas real, que conecta não apenas com o cotidiano, mas também com as outras ordens cósmicas, desde as naturais até as sobrenaturais. A porta de minha casa, segundo esta concepção, não dá unicamente ao bairro, mas também ao mundo e ao universo, portanto à divindade. Esta energia desce também até os tijolos ou o barro com que se levantou a casa.

A formação escolar do ocidental, baseada exclusivamente no inculcamento do princípio de causalidade, é por si mesma um reforço da solidão. A ciência pode oferecer conforto, mas dificilmente poderá promover um pensamento que se anime a conectar-se mais com o afetivo que com o racional. Isto seria propor uma interioridade poética que tenha o poder de mitologizar o cosmos, diminuindo assim o sentimento de solidão.

O índio se move numa irracionalidade consciente, onde prevalece a intuição (essa sabedoria que não necessita pré-elaborar-se). Esta não se propõe a experimentar o fato, e sim contemplar-se nele. A irracionalidade do índio não deixa de viver-se inteligentemente desde um domicílio existencial no qual sempre se renova a surpresa de coabitar com o absoluto.

Irracionalidade, comunidade e domicílio são apenas três aspectos do arquétipo do americano interior.
Arquétipo entendido como a forma suprema da qual, por variação, derivam infinidades de formas distintas entre si, mas todas elas com determinadas características comuns que lhes confere o arquétipo. O arquétipo é perene e, cada vez que acontece, sucede irrepetivelmente. Deve ser lembrado continuamente. O modo com o qual isto se realiza se chama “rito”.
O arquétipo conformado pela seqüência irracionalidade-comunidade-domicílio tende a ser reprimido nas sociedades urbanas do Ocidente. Estes componentes se ativam em base a uma interioridade energética poético-mágica. Disto se deduz que, no Ocidente, o tipo de ensinamento impartido reprime o afeto das relações comunitárias, com o qual se agudizam os quadros de solidão individual.
O medo do homem ocidental para com a magia o empobrece simbolicamente, ou acultura, tornando-se a vida um simples passar, sem emoções nem comoções.
Ao carecer de comunicação com o arquétipo, os poucos pseudo-ritos que o Ocidente ainda cultiva se esvaziam de conteúdo: já não se canta a Deus, apenas os “ovnis” de vez em quando nos ajudam a suprir essa grande nostalgia que a humanidade sente por uma remota época na qual o diálogo com os anjos era algo corrente e ao mesmo tempo comovedor. Muito longe ficaram as danças comunitárias, a oração fervorosa que modifica o ritmo respiratório até transformar o corpo em uma usina de emoções inenarráveis. Nosso corpo já não vibra com ritmos rituais, não há uma gozosa percepção do sagrado. Alguns praticam expressão corporal, mas estas práticas se realizam no desconhecimento absoluto de que o corpo é uma lembrança, uma cópia do princípio metafísico de Deus. Substituímos à comunidade com o conceito de grupo, relativizamos todo nosso ser ao ser do grupo; não existe um “mais além do grupo”. O grupo é um universo limitado que se fecha sobre si mesmo; na maioria das vezes, não dá permissão a seus integrantes para realizarem uma exploração individual da natureza e do espírito. Para tudo existe uma técnica, que é mais científica e mecânica que espontânea e sentida.
O indígena não sofre de psicose: quase todos os estudos científicos atuais sobre o tema demonstram com clareza que a esquizofrenia é também um invento de nossa cultura. O indígena é o suficientemente sábio como para deixar que o arquétipo, em vez de alimentar os conflitos individuais reprimidos, seja liberado e se recrie jogando a postular um cosmos, um afora que se irá construindo pouco a pouco, como calco de uma interioridade cada vez mais desanuviada. Se trata de uma projeção onde o de afora é semelhante a mim mesmo.

O indígena, ao realizar o rito, expressa: “O cosmos é agora como eu. Portanto, não oferece perigos nem exige trabalhos de reparação. Agora, pode todo meu ser estar. Se o calco foi organizado, se a fratura não foi fechada, agora, por ser o de afora previsível - pois é igual a mim - , posso habitar em todo meu corpo, nos olhos, ou nos espíritos ou no céu e suas estrelas. Estou em todos os objetos e todos os objetos sou eu. Minha psique será de agora em diante uma analogia do cosmos”.

Do arquétipo à psicoterapia

O objetivo do trabalho terapêutico deve ser tornar consciente o arquétipo que contém a magia e a poesia revitalizante e ressignificadora. Neste conceito baseio minha ação como etnopsiquiatra. Para alcançar isto me apóio nos seguintes pontos:
1. Sonhos, reformulados de acordo com a história e cultura do paciente que permitam a suficiente mobilização como para que opere mudanças no exterior ao mesmo tempo que aumenta a harmonia interna.
2. Incremento da capacidade criadora: jogos, expressões plásticas e todas aquelas atividades que de algum modo acompanhem, gratifiquem e enriqueçam o relato.

3. Técnicas rito-corporais. Emprego do gesto e da música para vivenciar o que se expressa.

4. Construção do mito próprio, que contém sempre uma analogia temática com os conflitos inconscientes, permitindo conhecê-los e superá-los. Jogar com personagens, espaços, circunstâncias fantásticas, de modo livre, até compor a própria saga heróica individual, que dê conta do universo trágico reprimido.

Nesta dupla empresa de aprender do mito e de recriá-lo baseei meu acercamento terapêutìco a pacientes portadores de culturas diferentes da nossa, começando assim a aceitar o desafio de brindar esta proposta ao homem ocidental.
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Devemos integrar o arquétipo a nossa vida consciente. Para isso é necessária uma participação física direta. Devemos reeditá-lo integralmente, em seus movimentos (bailes, máscaras, gestos, etc.) e sons. Devemos tornarmos o arquétipo, para começar a ser".


"Llanto para los araucanos", pintura de Rugendas.

Fonte: TRANSDISCIPLINARIA. O presente artigo foi publicado originalmente na revista argentina "Uno Mismo" com o título "Indio que te llevamos adentro". O Autor, Claudio Antonio Páleka, é antropólogo especializado em etnopsiquiatria. Trabalhos seus sobre etnohistória obtiveram prêmios do Ministério de Cultura e Educação argentino e de The Rolex Awards (Suíça, 1978). Realizou viagens à Índia, Indonésia e Tailândia para pesquisar a relação entre as instituições totais de talhe religioso e as crenças e práticas sobre saúde mental. Foi membro fundador e presidente da Associação Argentina de Etnopsiquiatria, e coordenou práticas de antropologia vivencial para antropólogos, psicólogos e outros cientistas sociais. Atualmente Monsenhor Claudio Antonio Páleka é o representante para América Latina da Igreja Católica Apostólica Mariavita. Tradução em copyleft pelo autor deste blog. Conheçam também o site argentino Folklore y Tradiciones.