27 de dezembro de 2007

A Independência Lakota

Aldeia Lakota na Dakota do Sul, final do Séc. 19.

Os povos originários da Nação Lakota declararam sua independência dos Estados Unidos no dia 19 de dezembro de 2007. Os membros mais ilustres dessa nação indígena são Touro Sentado, Cavalo Louco e Leonard Peltier (preso político norte-americano há mais de 31 anos). O motivo apresentado pelos Lakotas é o reiterado descumprimento dos acordos firmados há mais de 150 anos entre o governo e seus ancestrais. Diante dessa situação os Lakotas decidiram romper esses acordos de forma unilateral, informando a decisão ao Departamento de Estado e iniciando relações diplomáticas com Venezuela, Bolívia, Chile e África do Sul.

Os Lakotas afirmam que o direito à sua independência - pela qual vêm lutando desde a década de 70, quando foi preso o líder indígena Leonard Peltier - está garantido pelos acordos que acabaram de romper, pela constituição norte-americana e por leis internacionais.

Metade da nação Lakota se situa no estado de Dakota do Sul, enquanto o resto vive dividido entre Nebraska, Dakota do Norte, Montana e Wyoming. Seus integrantes têm uma expectativa de vida de apenas 44 anos e sofrem de uma taxa de suicídio 150% maior do que a média dos EUA. Os integrantes do novo país têm a intenção de colocar em prática seu próprio passaporte, administração pública e carteira de habilitação de motorista.

As comunidades da nação Lakota, assim como todas as nações indígenas dos EUA, são beneficiárias do programa de distribuição de combustível para calefação patrocinado pela CITIGO, subsidiária norte-americana da estatal venezuelana do Petróleo PDVSA.

Fonte: Blog Takahashi. Leiam: Lakota Withdrawal Letter, December 17, 2007


Clip do Rage Against the Machine em homenagem à luta Lakota

O novo indigenismo

Domingos Tukano, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro. Foto: Jonne Roriz

"Houve um tempo em que as lideranças indígenas eram caciques emplumados que atraíam atenção pela extravagância e tinham enorme dificuldade em se fazer entender pelos brancos. Não há mais espaço para eles. Hoje, os principais líderes indígenas da Amazônia – em especial na calha do Rio Negro – são representantes políticos das etnias. Não são caciques ou pajés; todos estudaram em escolas dos brancos e a maioria tem nível superior. Da cultura indígena, eles trazem a forma direta e sincera de se expressar. São articulados e sabem que seu papel é fazer a ligação entre o mundo dos brancos e as aldeias.

(...) Até aqui, a caminhada política dos indígenas na Amazônia tem sido contida pela esperteza dos brancos. A maioria do eleitorado é indígena, mas os brancos lançam dezenas de candidatos indígenas a vereador e pulverizam as votações. Cansados de ser iludidos, os líderes agora começam a sonhar com a criação de um partido indígena e pleitear uma representação parlamentar indígena exclusiva no Congresso e nas assembléias dos Estados onde a população indígena é expressiva, num modelo importado de Equador, Bolívia, Colômbia e Guatemala.

Quando o poder político for alcançado, virá junto a autonomia das TIs, imaginam. Eles querem que o Brasil seja reconhecido como um país plurinacional, como Canadá e EUA – o que pode produzir um choque frontal com os militares. “Lá os indígenas têm hidrelétricas e comercializam energia. Por que não podemos fazer o mesmo?”, indaga Jorge Terena, assessor da ONG americana The Nature Conservancy. Nem todos, no entanto, querem uma autonomia tão ampla. Bonifácio acha que a autonomia deve ser parcial. Quanto ao partido indígena, diz que não é fácil criá-lo. Só em São Gabriel da Cachoeira existem 22 povos indígenas e 22 organizações sociais: “Meu povo prefere fazer aliança com um branco que com um tucano.”

24 de dezembro de 2007

Faces do Etnocídio

São Miguel das Missões - Museu das Missões: sempre ao estar lá me pareceu (por esses rescolhos do grande etnocídio que apresenta) o Museu de Hiroshima ou uma coleção de imagens do imortal "Hiroshima, mon amour", de Alain Resnais.

O Museu das Missões, no Rio Grande do Sul, projetado em 1940 por Lúcio Costa, reflete a riqueza cultural da civilização que se desenvolveu na região.
Inspirado nas habitações dos índios missioneiros, com avarandado coberto com telhas de barro, contém uma rica coleção com cerca de 100 (cem) imagens de rara beleza, de tamanhos que vão de 15 cm a 2,20 m, recolhidas, na região, por João Hugo Machado, entre 1939 e 1940. Reúne a maior coleção pública de imagens sacras e fragmentos missioneiros do Mercosul.

Para se ler mais sobre sobre as Missões, uma boa pedida é o site Verdes Trigos








Aqui apresento algumas das imagens fotografadas como se contemplassem a si próprias no espelho: o recorte de seus rostos traduz impressões latentes nas marcas do tempo e do vento nas campinas missioneiras. E relembro o poeta Jayme Caetano Braun, afinal é Natal por aqui:

Jayme Caetano é daqueles que se arrepia num cemitério campeiro e reza primeiro junto a cruz sem inscrição, feita a facão, dos gaúchos sem nome. Este defunto sem nome, sem identidade, é para Jayme Caetano Braun o próprio gaúcho. Em “Missioneiros” ele define a antropologia cultural do gaúcho mais por negação do que por afirmação: “Nem luso - nem castelhano/nem bugre – negro - nem branco,/ mas centauro no flanco/ do cenário campechano;/ sem lei - sem rumo, orelhano/ e - ao mesmo tempo - monarca,/ olhar de gavião que abarca,/ tudo o que vive e caminha,/ - a lança não tem bainha,/ o coração não tem marca!”

O Payador Missioneiro sente-se, no poema “século e meio depois”, filho do gaúcho originário, homem livre, andejo, maltrapilho peleador, sem lei, sem dono, sem rei, sem rumo, campeiro do pampa sem aramados, morador do poncho tendo por teto o sobreiro.

Por isto esbraveja de alma livre, no poema “Alambrado”, contra as cercas do latifúndio que impedem a liberdade do gaúcho: “Por isso, cerca de arame,/ Eu, nunca gostei de ti,/ Pois o pago onde eu nasci/ Não precisa de tapumes/ E a prisão que tu resumes,/ Se nos traz prosperidade,/ Quase mata a liberdade/ Que é a lei dos nossos costumes.”

Em seu poema “Ode às missões e ao índio missioneiro” exalta o projeto guaranítico-jesuíta frente aos Impérios da época ressaltando o sistema alternativo que ali nascera e foi dizimado, mas que deixou como patrimônio para o Rio Grande do Sul a utopia de uma nova sociedade. Em seu belo poema “Ruína Missioneira” faz, de forma explícita esta ligação entre a fé e a vida dos povos guaranis e se sente herdeiro d’“A CRUZ de Nosso Senhor/ E a lança de TIARAJU”.

(...)Ao tratar diretamente de. Jesus Cristo, Jayme Caetano Braun evita toda a associação com o mundo teológico, e por conseqüência cristológico, do catolicismo tradicionalista gaúcho. Mantendo a linguagem poética do sul, relaciona Jesus com os gaúchos anônimos de nossa história. “Tem sido assim - dois mil anos,/ ninguém sabe - mais ou menos,/ vem conviver com os pequenos, de todos os meridianos/ e repetir aos humanos/ as preces do bem querer,/ quem sabe - até pode ser,/ que um dia seja atendido/ e o mundo velho perdido/ encontre paz pra viver”. Apresentando assim, em seu “Natal Galponeiro”, a ação de Jesus presente na história, com conseqüências bem diretas para o presente e projetos de futuro.

Jesus Cristo pregado nas poesias de Jayme Caetano Braun, ao contrário do Cristo Crioulo, não faz vistas grossas à realidade social. Ele vê a realidade e age sobre ela. “Ele sabe da apertura/ em que vive o pobrerio,/ a fome - a miséria - o frio,/ por que passa a criatura,/ mas que - inda restam - ternura,/ amizade e esperança/ e que pode - a cada andança,/ mesmo nos ranchos sem pão,/ aliviar o coração/ num sorriso de criança!”

Jayme vai “juntando ao Índio Sepé,/ o Nazareno da Cruz”, porém não os deixa no passado, atualiza os seus martírios, “é Natal - nasce o MESSIAS,/ salve o Menino Jesus!/Mas os que fogem da luz,/ o matam - todos os dias.” E em seguida, contrapondo o Natal do mercado de nossos tempos com as crueldades que grande maioria vive, andando como morta pela vida, chama a atenção das instituições e dos que detêm o poder para que não esqueçam de Jesus, a quem deseja boa viagem em sua fuga para manter a vida e se livrar da morte. Num outro poema, “Paraíso Perdido”, aponta ainda como motivo da morte de Jesus o amor ao dinheiro, tal como o conhecemos na moeda internacional dominante, contraposto aos sentimentos mais humanos e nobres: “E mandou Nosso Senhor,/ o Menino de Belém,/ o que em cada Natal vem,/ trazer carinho e amor, mas o homem - pecador,/ ao qual o dólar seduz,/ não quis compreender a luz,/ da fé e da fraternidade,/ Jesus falava de verdade/ e o pregaram numa cruz!”

Fonte: Diocese de Caxias do Sul - RS





15 de dezembro de 2007

Cultura do Peyotl




Imperdível: "HUICHOL, EL VIAJE MÍSTICO", animação mexicana criada por Francisco Ortuño Silva sobre os Huicholes e a Cultura do Peyotl. Os huicholes são um grupo étnico indígena do México centro-ocidental que habitam a Sierra Madre Ocidental nos estados de Nayarit e Jalisco. Devido ao isolamento e resistência à evangelização em que deliberadamente há muito vivem, mantém muitos dos seus traços culturais originais. Autodenominam-se "Wixáritari" (o povo) na sua língua nativa que chamam "Wixárika". Mais informações sobre a Arte Huichol no excelente site de Karina Malpica.

Também no YouTube, para se assistir (com narração em espanhol): Wixaritari - Huicholes


HUICHOLES. (detalhe)
San Andrés Jalisco. Jalisco, México. Arte:
Santiago Sierra

14 de dezembro de 2007

Who is Who



Diante de reiterados spams que se tem difundido pela rede divulgando com sensacionalismo infame uma versão deturpada da História da Cultura da Ayahuasca no Brasil, cumpre informar o que está no site dos verdadeiros Lakotas dos Estados Unidos (LAKOTA – CULTURE & ESPIRITUALITY ):

"Advertencia acerca de "Gideon" en Brazil Emiliano Dias Linhares alias "Gideon" es un fraude. Ni él ni NADA de lo que hace o dice tiene relación alguna con los Lakotas o su espiritualidad, y el material que utiliza en su sitio web ha sido tomado sin autorización de otras fuentes.

Los Lakotas JAMAS utilizamos la palabra "chaman", JAMAS mezclamos nuestra espiritualidad con la religión cristiana, y JAMAS utilizamos ayahuasca o cualquier otra planta o substancia alucinógena o alteradora de la consciencia como parte de nuestros rituales.

"Gideon" es un ejemplo más de los farsantes que sólo buscan alimentar su ego y sus bolsillos con la energía y el dinero de sus ingenuos seguidores."

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"Warning about "Gideon" in Brazil Emiliano Dias Linhares aka "Gideon" is a fraud. Regardless of his claims, nothing of what he says or does is related in any way to the Lakota or their spirituality. Also, the material he presents in his website has been taken without authorization from other sources.

Lakota people NEVER use the word "shaman", NEVER mix their spirituality with Christian or any other religion, and NEVER use "ayahuasca" or any other hallucinogenic or mind-altering plant or substance as part of the rituals.

"Gideon" is just another example of those fakes who only seek to feed their egos and pockets with the energy and money of their gullible followers."

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"Advertência acerca de "Gideon" no Brasil

Emiliano Dias Linhares, o "Gideon" é uma farsa. Nem ele nem NADA do que faz ou diz tem relação alguma com os Lakotas ou sua espiritualidade, e o material que utiliza em seu site na web foi tomado sem autorização de outras fontes.

Nós Lakotas JAMAIS utilizamos a palavra "xamã", JAMAIS misturamos nossa espiritualidade com a religião cristã e JAMAIS utilizamos ayahuasca ou qualquer outra planta ou substância alucinógena ou alteradora da consciência como parte de nossos rituais.

"Gideon" é um exemplo a mais dos farsantes que só procuram alimentar seu ego e seus bolsos com a energia e o dinheiro de sus ingênuos seguidores."

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SUGESTÃO: O assunto é regulamentado pelo CONAD do Ministério da Justiça e qualquer propaganda referente a trabalhos com a ayahuasca (mesmo a título de workshop xamânico) onde haja cobrança de ingresso deve ser denunciada, tanto quanto a comercialização de qualquer bebida sob esse nome genérico de ayahuasca ou daime. Todo centro usuário deveria, a meu ver, demonstrar de onde obtém a bebida, pois sendo esta produzida a partir de espécies cuja extração florestal é controlada pelos órgãos ambientais do governo federal, não pode haver fomento ao "mercado negro" da mesma. O sr. Linhares, por exemplo, estaria adquirindo ayahuasca de uma tribo indígena do Estado do Amazonas sem o conhecimento da FUNAI, para esse seu pretenso trabalho de redução de danos, o que precisa ser certificado e acompanhado pelas autoridades competentes. As entidades usuárias no Brasil e no exterior deveriam demonstrar seu compromisso com a ética terapêutica, subscrevendo o CODE OF ETHICS FOR SPIRITUAL GUIDES do Conselho para Práticas Espirituais sediado na Califórnia. Os irmãos ameríndios agradeceriam semelhante demonstração de conduta.

Conheçam também o site Ayahuasca Brasil.

Progresso Verde

Atualizando: após alguns dias em Ji-Paraná com meu amigo Alflen que está desdobrando aí o blog Progresso Verde com muita dedicação, estive no Acre me arregimentando para a partir de 2008 estar me dedicando ao setor de indigenismo da Fundação de Cultura Elias Mansour. Desse modo este blog Karipuna vai ganhar novas perspectivas, e espero poder estar atualizando-o a partir das aldeias do Acre com as demandas das nações indígenas brasileiras que são lá as grandes guardiães da floresta mater (matrix de um novo futuro para a humanidade). Como Txaná Xanê tenho que estar no Alto Purus para fazer a Dança do Gavião com meu irmão Rantizal Oliveira!... E todas as boas sementes plantadas desde a temporada passada na Área Indígena Hunikuin poderão ganhar solo fértil doravante. Mas semana que vem volto a escrever de São Miguel das Missões, das telúricas campinas guaranis, nos sertões do território gaúcho: até lá um abraço a todos amigos e participantes de nossas leituras. Muitos vivas à FLORESTANIA!...

Vozes da América