29 de novembro de 2007

Água é Vida

A ligação dos povos indígenas com a natureza é mais que uma tradição, faz parte da cultura e da religião. Por isso, o ritual de acendimento do fogo espiritual aconteceu ao pôr-do-sol do dia 23 de novembro, na Praia do Pina, como parte dos IX Jogos dos Povos Indígenas que ocorre até o dia 1º de dezembro, no Recife e Olinda, com o tema ÁGUA É VIDA: DIREITO SAGRADO QUE NÃO SE VENDE.

Durante a cerimônia, representantes das nações Xikrin, do Pará, e Karajá, do Tocantins, fizeram as respectivas danças, com seus apetrechos e cantos que entoavam e evocavam os ancestrais em homenagem aos elementos que compõem a natureza: terra, fogo, água e ar. "Esse é um momento especial, quando o encontro entre os povos indígenas é celebrado às margens do grande rio (Amazonas)", explicou o representante do comitê das nações, Carlos Terena.

O Recife possui hoje a quarta maior população indígena do país - 10 etnias. “Por terem sido os primeiros a sentirem o impacto da colonização, os indígenas do Recife são tidos como povos invisíveis. Eles perderam suas características e a língua mãe, porém o sangue indígena ainda corre na veia”, defende Paulo Tupiniquim, coordenador político da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo - Apoíme. Presente na cerimônia de lançamento, o secretário de Esporte do Governo pernambucano, Nelson Pereira, declarou que os jogos indígenas revelam a capacidade que se tem de unir o esporte com os mais diversos temas. Para o secretário, o evento vai ser uma forma de mostrar para o mundo os indígenas de Pernambuco e de promover junto a eles o interesse de encontrar com outros povos, longe do poder mercantilista de exploração da cultura indígena exótica.

No âmbito nacional, os Jogos foram iniciados em 1996 em Goiânia e, desde então, realizados anualmente nas seguintes cidades: Guairá/PR (1999), Marabá/PA (2000), Campo Grande/MS (2001), Marapani/PA (2002), Palmas/TO (2003), Porto Seguro (2004), Fortaleza (2005), e Recife (2007).

Foto: Aldo Dias-Ascom ME

A experiência das edições anteriores dos JOGOS DOS POVOS INDÍGENAS no Brasil permitiu aos organizadores aprimorar a realização do evento, corrigir as falhas, observar e definir novas linhas de ações para alcançar a meta principal, hoje conhecida por todos: a consolidação dos Jogos como a maior e mais importante festa de congraçamento dos povos indígenas, nascida de um sonho dos próprios índios. O critério para a participação é a força cultural das etnias, considerando tradições como a língua, a dança, os rituais, os cantos, as pinturas corporais, o artesanato e os esportes tradicionais.

Maria Beatriz Rocha Ferreira retrata a situação em "Jogos dos Povos Indígenas: tradição e mudança":

"O modelo que vem sendo realizado tem características próprias dos movimentos dos Povos Indígenas. A organização destes jogos depende da articulação entre órgãos do poder público das esferas federal - FUNAI, Ministério do Esporte (denominação atual, antes INDESP) Secretaria de Esporte Estadual e às vezes Prefeitura. Um outro elemento importante, mas não tão visível, é a atuação de personalidades indígenas e forma dos indígenas se organizarem, responsáveis pela intermediação entre as comunidades e o Estado. É importante enfatizar a importância do fórum social durante o evento. É um momento de partilha,de enriquecimento de todos, de discussão sobre diferentes temas relativos à problemática indígena, como política, educação, saúde e ecologia. Expressa de uma maneira ou de outra a integração da cosmologia indígena.

As informações de indígenas (Assurini, Caiapó, Pareci, Terena, Krahô,Karajá,Yawalapiti) obtidas nos eventos dos Jogos dos Povos Indígenas realizados em Mato Grosso do Sul, Porto Seguro e Fortaleza apontam os seguintes significados dos jogos:a) valorizar a cultura dos povos indígenas para garantir a visibilidade étnica; b) aprender tradições de patrícios; c) mostrar aos “brancos”um pouco da cultura indígena; d) oportunizar uma mudança de idéia dos brancos, que os olham com discriminação; e) encontrar etnias, que não sabiam que existiam,e que em alguns aspectos são semelhantes; f) despertar o respeito às diferenças étnicas; g) manter contato com outras etnias mesmo depois dos jogos, etc; h) aliança jogo - esporte- evento nacional."

Os jogos dos povos indígenas podem indicar importantes direções para a comunidade local,ser um lugar de celebração, um campo não tenso onde é possível discutir e buscar soluções para os problemas.Se eles nunca tivessem sido realizados, não haveria momentos importantes de contato interétnico, um pensamento sobre re-significação dos jogos tradicionais, esporte indígena, visibilidade étnica. E os jogos poderiam ficar no esquecimento, no silêncio. Enfim, o processo de mudanças nas sociedades indígenas tem mobilizado diferentes setores da sociedade, do Governo e Universidades às Organizações Não-governamentais. Faz parte de um processo de reconhecimento do valor e da identidade de ser indígena e da contribuição que esses povos podem dar ao país."

Para o líder indígena Carlos Terena, idealizador do evento criado em 1996, os jogos nasceram de um sonho acalentado por 20 anos de difundir, além da defesa legítima das questões agrárias, o lado alegre da vida nas tribos. “Eu queria que o Brasil pudesse conhecer o Brasil, mas acabou que minha idéia está servindo também para os índios, porque antes não havia intercâmbio entre nossos parentes”, diz Terena, ao comentar que até agora, por ocasião dos encontros, os grupos se observam encantados. Segundo o líder Terena, por influência dos jogos muito já se conseguiu avançar neste aspecto, inclusive revertendo situações de degradação de algumas tribos, onde se verificavam altos índices de suicídios e grande incidência de alcoolismo. – “Há gratidão e emocionado orgulho entre nossa gente a cada festa que realizamos”.

Confira a carta de Terena sobre os JPI deste ano:

IX JOGOS DOS POVOS INDÍGENAS"O importante não é ganhar, sim celebrar!"

Nesse mundo conturbado por contradições entre paz e guerra, mudanças climáticas, riqueza e pobreza, mais uma vez os Povos Indígenas do Brasil através da organização indígena Comitê Intertribal – ITC e com apoio do Ministério do Esporte, vai reunir em torno de 1.300 indígenas e 34 Povos, oriundos de várias regiões do Brasil, com a realização do IX JOGOS DOS POVOS INDÍGENAS, entre os dias 24 de Novembro e 1ª de Dezembro em Olinda e Recife, para mostrar que se o futuro existe, queremos ser parte dele com dignidade e respeito.

Os Povos Indígenas, contornando pressões e ideais político-partidários e as realidades indígenas locais, logram uma verdadeira articulação que lembra Cunhambebe e a Confederação dos Tamoios na guerra contra os colonizadores e Touro Sentado nos EUA, quando engaja nessa construção do retrato do nosso País a partir das tradições indígenas, o Governo de Eduardo Campos de Pernambuco (PSB), de Luciana Santos, Prefeita de Olinda (PC do B) e João Paulo, de Recife (PT).

Diversas aldeias dos mais distantes rincões brasileiros já preparam suas flechas, arcos, bordunas, remos, artes e artesanatos para viajarem as terras dos Tapuias, Fulni-Ô, Pankararu, Xukuru, Luiz Gonzaga, Ariano, Gilberto Freire e por que não dizer entre outros, de Luis Inácio Lula da Silva. A área escolhida para as celebrações dos Jogos dos Povos Indígenas recorda grandes conflitos entre brancos e índios, quando de parte a parte morreram muitos em nome da civilização, deixando como resultado de um lado, a extinção de vários povos e aldeias indígenas, e de outro, uma sociedade que tem a cara do branco europeu, do negro e do próprio indígena. Agora, após a limpeza exercida por líderes indígenas espirituais que foram ao local, nasce o sonho de afirmar mais uma vez a identidade cultural e o resgate da auto-estima de cada etnia participante, lembrando a diversidade, a diferença entre povos e povos de ritos, costumes, línguas e visões, sem qualquer discriminação ou exclusão, apesar da insistência de alguns "indigenistas" e "intelectuais" que sempre falaram pelo índio, em afirmar dentro de seu círculo de atraso e vício colonialista, que tudo será um grande circo, que tudo não passa de folclore ou exotização.

Custa-
nos crer que enquanto os Povos Indígenas conquistam espaços internacionais na ONU com as Metas do Milênio, a criação de um Fórum Permanente como representação mundial oficial de alto nível e a recente Declaração para os Direitos Indígenas, diversos "especialistas em índios" permanecem tateando e sobrevivendo em seu reduto intelectual e acadêmico do atraso. Houve um tempo em que os Militares do arbítrio governantes do País quiseram expulsar de Brasília indígenas jovens em potencial quando estudavam para ingressar nas universidades ou em empregos na Funai, preocupados que estavam com esse crescimento indígena e nessa tentativa, criaram apelidos como "índios aculturados", "índios do asfalto", "índios falsos", cuja resposta perante todo o País, foi: "Posso ser o que você é sem deixar de ser quem sou!"

Atualmente existem indígenas estudando para serem Antropólogos, Sociólogos, Médicos, Engenheiros, Administradores de Empresa e Advogados, inclusive muitos já formados e em áreas de Mestrados e Doutorados, que estarão também participando dos IX Jogos dos Povos Indígenas como coordenadores e palestrantes no Fórum Social Indígena. Por isso um evento da natureza e qualidade étnica dos IX Jogos dos Povos Indígenas, atrai setores do Ministério da Cultura, MEC, Funai e Funasa, dentro de um compromisso do Governo Federal de assumir e respeitar o protagonismo indígena, despertando perante a sociedade nacional de que todos têm o seu pedaço de índio, inclusive para os reacionários que não admitem essa possibilidade de vanguarda indígena com soberania e autodeterminação.

O Literatura Indígena exemplifica bem esse novo tempo quando acolhe níveis de comentários de forma responsável e autônoma, possibilitando através da máquina do homem branco, um DJ que procura dar nitidez, compreensão ao som da voz indígena novo, moderno, o atual que resistiu a toda forma de opressão. Os IX JPI sentem essa muralha ainda que apodrecida, tratada pelo olhar indígena como desafio: este ano em Pernambuco com irmãos que receberam os primeiros impactos do colonizador, e daqui dois anos em Mato Grosso, terra de Rondon, Krumari, Paulinho Bororo, Kremuro e Juruna. Uma grande alegria indígena parafraseada numa profecia bíblica: Bendito aqueles que viram e ouviram!


M. Marcos Terena
Diretor do Memorial dos Povos Indigenas
Membro da Cátedra Indigena Itinerante

Fonte: MinC. Leiam o artigo "Etno-futebol indígena", de José Ronaldo Mendonça Fassheber e Maria Beatriz Rocha Ferreira. Conheçam também o projeto do site Jogos Indígenas do Brasil.

Pela Vitória Histórica dos Povos Indígenas

Grupo Nukak-Makú acampado nos arredores de San José del Guaviare, Colômbia.

DECLARATORIA DE LOS PUEBLOS Y NACIONES INDÍGENAS

Desde el corazón de América del Sur a los 12 días del mes de octubre de 2007, los delegados y delegadas de los pueblos y naciones indígenas originarias del mundo, reunidos en el Encuentro Mundial: “Por la Victoria Histórica de los Pueblos Indígenas del Mundo”, para celebrar la aprobación de la Declaración de las Naciones Unidas sobre los Derechos de los Pueblos Indígenas, expresamos nuestra palabra:

Que a 515 años de opresión y dominación, aquí estamos, no han podido eliminarnos. Hemos enfrentado y resistido a las políticas de etnocidio, genocidio, colonización, destrucción y saqueo. La imposición de sistemas económicos como el capitalismo, caracterizado por el intervencionismo, las guerras y los desastres socio-ambientales, sistema que continúa amenazando nuestros modos de vida como pueblos.

Que como consecuencia de la política neoliberal de dominación de la naturaleza, de la búsqueda de ganancia fácil de la concentración del capital en pocas manos y la irracional explotación de los recursos naturales, nuestra Madre Tierra está herida de muerte, mientras los pueblos indígenas seguimos siendo desalojados de nuestros territorios.

El planeta se está recalentando. Estamos viviendo un cambio climático sin precedentes, donde los desastres socioambientales son cada vez más fuertes y más frecuentes, donde todos sin excepción somos afectados y afectadas.

Que nos acecha una gran crisis energética, donde la Era del Petróleo está por concluir, sin que hayamos encontrado una energía alternativa limpia que la pueda sustituir en las cantidades necesarias para mantener a esa civilización occidental que nos ha hecho totalmente dependiente de los hidrocarburos.

Que esta situación pueda ser una amenaza que nos dejará expuestos al peligro que las políticas neoliberales e imperialistas desaten guerras por las últimas gotas del llamado oro negro y el oro azul, pero también pueda darnos la oportunidad de hacer de este nuevo milenio un milenio de la vida, un milenio del equilibrio y la complementariedad, sin tener que abusar de energías que destruyen a la Madre Tierra.

Que tanto los recursos naturales como las tierras y territorios que habitamos son nuestros por historia, por nacimiento, por derecho y por siempre, por lo que la libre determinación sobre éstos es fundamental para poder mantener nuestra vida, ciencias, sabidurías, espiritualidad, organización, medicinas y soberanía alimentaría.

Que empieza una nueva era impulsada por los pueblos indígenas originarios, dando luz a los tiempos de cambio, a los tiempos de Pachakuti, en tiempos de la culminación del Quinto Sol.

Que saludamos la aprobación de la Declaración de las Naciones Unidas sobre los Derechos de los Pueblos Indígenas, que es esencial para su supervivencia y bienestar de los mas de 370 millones de indígenas, en alrededor de 70 países del mundo. Luego de más de veinte años de lucha, da respuesta a nuestra demanda histórica de libre determinación de los pueblos y el reconocimiento de los mismos y los derechos colectivos.

La Declaración aprobada contiene un conjunto de principios y normas que reconocen y establecen en el régimen normativo internacional, los derechos fundamentales de los Pueblos Indígenas, los cuales que deben ser la base de la nueva relación entre los Pueblos Indígenas, los Estados, las sociedades y cooperación en todo el mundo. Por lo tanto, además de otros instrumentos jurídicos relativos a los derechos humanos ya existentes, la Declaración, es la nueva base normativa y práctica para garantizar y proteger los derechos indígenas en diversos ámbitos y niveles.

Exhortamos a los países miembros de las Naciones Unidas y alentamos a los pueblos indígenas que den cumplimiento y práctica a este importante instrumento de significación histórica. Censuramos a los gobiernos que votaron en contra de la Declaración sobre los Derechos de los Pueblos Indígenas, y condenamos la doble moral.

Que nos comprometemos a respaldar el histórico esfuerzo liderado por el hermano Evo Morales, Presidente de los Pueblos Indígenas de Abya Yala, en la construcción de un nuevo Estado plurinacional. Ante cualquier amenaza interna o externa, estaremos vigilantes de lo que suceda en Bolivia y pedimos a los pueblos del planeta brinden su apoyo y solidaridad a este proceso, que debe servir de ejemplo para que los Pueblos, Naciones y Estados del mundo continuemos por esta misma senda.

Por tanto, los Pueblos y Naciones Indígenas del mundo exigimos a los Estados cumplir los siguientes mandatos:

1. Construir un mundo basado en la Cultura de la Vida, en la identidad, filosofía, cosmovisión y espiritualidad milenaria de los pueblos indígenas originarios, aplicando los conocimientos y saberes ancestrales, consolidando procesos de intercambio y hermandad entre las naciones y respetando la autodeterminación.

2. Asumir decisiones nacionales e internacionales para salvar a la Madre Naturaleza de los desastres que está provocando el capitalismo en su decadencia, que se manifiesta en el calentamiento global y la crisis ecológica; reafirmando que la cultura indígena originaria es la única alternativa para salvar nuestro planeta tierra.

3. Sustituir los actuales modelos de desarrollo basados en el capitalismo, en la mercancía, en la explotación irracional de la humanidad y los recursos naturales, en el derroche de energía y en el consumismo, por modelos que coloquen a la vida, a la complementariedad, a la reciprocidad, al respeto de la diversidad cultural y el uso sustentable de los recursos naturales como las principales prioridades.

4. Aplicar políticas nacionales sobre Soberanía Alimentaria como base principal de la Soberanía Nacional, en la cual la comunidad garantiza tanto el respeto a su propia cultura como espacios y modos propios de producción, distribución y consumo en equilibrio con la naturaleza de alimentos sanos y limpios de contaminación para toda la población, eliminando el hambre, porque la alimentación es un derecho para la vida.

5. Repudiar los planes y proyectos de la generación de energía como el biocombustible, que destruyen y niegan el alimento a los pueblos. Asimismo condenamos la utilización de semillas transgénicas porque acaba con nuestras semillas milenarias y nos obliga a depender de la agroindustria.

6. Valorar y revalorizar el papel de la mujer indígena originaria como vanguardia de las luchas emancipatorias de nuestros pueblos bajo principios de dualidad, igualdad y equidad de la relación hombre mujer.

7. Asumir la Cultura de la Paz y la Vida como guía para resolver los problemas y conflictos del mundo, renunciando a la carrera armamentista, e iniciar el desarme para garantizar la preservación de la vida del planeta.

8. Asumir transformaciones legales justas necesarias para construir sistemas y medios de comunicación e información que estén basados en nuestra cosmovisión, espiritualidad y filosofía comunal, en la sabiduría de nuestros antepasados. Garantizar el reconocimiento al derecho a la comunicación e información de los pueblos indígenas.

9. Garantizar el respeto y derecho a la vida, a la salud y la educación intercultural bilingüe, construyendo políticas en beneficio de los pueblos y naciones indígenas originarias.

10. Declarar como derechos humanos el agua, por ser un elemento vital y un bien social de la humanidad, que no debe ser objeto de lucro. Asimismo, impulsar el uso de energías alternativas que no amenacen la vida del planeta, garantizando de esta manera el acceso a todos los servicios básicos.

11. Resolver de manera corresponsable las causas de la migración entre países, asumiendo políticas de libre circulación de personas para garantizar un mundo sin fronteras donde no exista discriminación, marginación y exclusión.

12. Descolonizar las Naciones Unidas, y trasladar su sede a un territorio que dignifique y exprese las justas aspiraciones de los Pueblos, Naciones y Estados del mundo.

13. No criminalizar las luchas de los pueblos indígenas, ni satanizar o acusarnos de terroristas, cuando los pueblos reclamamos nuestros derechos y planteamientos de cómo salvar la vida y la humanidad.

14. Liberar de manera inmediata a líderes y lideresas indígenas encarcelados en las diferentes partes del mundo; principalmente a Leonard Peltier en Estados Unidos.

La lucha no se detiene, se acabó el resistir por resistir, llegó nuestro tiempo. Proclamamos el 12 de octubre “día de inicio de nuestras luchas para salvar a la Madre Naturaleza”.

Desde nuestras familias, hogares, comunidades, pueblos, estando o no estando en el gobierno de nuestros países, nosotros mismos decidimos y encaminamos nuestros destinos, nosotros mismos asumimos la voluntad y responsabilidad del Vivir Bien que nos han legado nuestros ancestros, para irradiar desde lo más sencillo y simple a lo más grande y complejo, para construir de manera horizontal y entre todas, todos y el todo, la cultura de la paciencia, la cultura del diálogo y fundamentalmente la Cultura de la Vida.

Por los muertos, héroes y mártires que abonaron nuestras vidas, por sus utopías y anhelos, fortalezcamos nuestra identidad, nuestros procesos organizativos y nuestras luchas hasta lograr construir la unidad de los pueblos del mundo y volver al equilibrio, salvando a la vida, a la humanidad y el planeta tierra.

Ratificamos nuestro apoyo al hermano Evo Morales para Premio Nobel de la Paz, por su permanente e incondicional entrega de servicio al bien por la humanidad, los pueblos, el planeta y la paz mundial.

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Jovens ameríndias de povos hoje extintos na Terra do Fogo


27 de novembro de 2007

Cultura Shipiba

(D'autres mondes, documentário de Jan Kounen, França, 2004, 35mm)

Tiene que ser hábil. En aprender a cantar funciona rápido el cerebro. Dónde comienza y dónde termina. Es como hablar en un escenario. Se siente emocionado, sino tartamudeas.

As canções dedicadas aos rios são como bordados de rios

Por ejemplo, los ríos en las telas bordadas sale de una idea que (las) mujeres artesanas tienen, significa que el indígena es bastante estratégico y analítico con relación al pasado. Los diseños son caminos que sortean obstáculos con éxito. Las canciones dedicadas a los ríos son como bordados de ríos. Anteriormente las lunas, el sol, (la) estrella eran significado respetado:
No salgas al sol porque te va a cutipar.
No mires a la luna porque vas a soñar malo.
No cuentes las estrellas.

As árvores eram respeitadas

Antes para tomar se hablaba con la planta, se pedía permiso para que el dueño se retire del tronco. Porque si lo cortas puede cortarte tú. El tema ya no se toca frente a la devastación. Los árboles maderables se respetaban como la lupuna o la catahua. La lupuna tiene su madre, da mal aire como la catahua. Da vómitos, fiebre. De la catahua no se pasaba a menos de 20 cm. Es brujo, te cutipa, te da chupos.


O rio anda sempre serpenteante, nunca vai reto

Antes no era con precio como ahora estos tejidos. Ahora han aprendido a coger la plata, por eso hacen los tejidos. Mi mano y la mano de mis hermanas justo son para los tejidos. Y está en mi cabeza, entonces pensando hago. Aquí también tenemos a Tupac Amaru. Esto es tika, esto es la llama; esto es tuytu, el tuytu es el hito o más conocido como la saywa. Este el sol, esto es la ruina, esto es un animalito de la selva, este es el cóndor. Todo esto nos ha enseñado nuestra abuelita.

Nuestra propia tierra es Waka Wasi, estos aprendizajes hemos aprendido ahí; pero no queremos dejar estos aprendizajes, educamos nuestros hijos y nos hacemos ayudar con este arte que sabemos. Tengo tres hijos vivos, una mujer y dos varones y todos ellos saben hacer el tejido y me ayudan. Yo les enseño pero también aprenden mirando nomás, según como va creciendo, así van aprendiendo cada vez más y más. Esto se llama tika y son antiguos, ahora hacen poco. Esto es antiguo wari, son motivos antiguos, esto significa camino. Estos son los colores, rojo, verde, amarrillo, azul, rosado, negro. Todos tienen nombre. Esto es la chacana. La cruz andina, esto es la estrella, esto es la grada. El río siempre anda serpenteante, nunca va recto. Es todo una historia.

Esto es el tuytu, o la saywa, estos otros son las estrellas, lorayta, estos son antiguos florcitas t´ikas. Esto es Tupac Amaru, aquí lo están ejecutando con cuatro caballos, los españoles, así lo han matado, crucificándolo; Tupac Amaru era el que nos defendía. Esta es la luna, que está entre los apus, de noche. Este tejido es para el matrimonio, estos son los pajaritos que viven en la qucha (laguna), también hay en otros lugares. Estos pajaritos siempre andan en pares, por que es su pareja, son esposos, este tejido se colocan los casados. Con ella están conectados la pareja, Los casados antes bebían de un solo qiru (kero), unidos por la chalina. Esto simboliza los pajaritos del tejido que están besándose. Ellos también se están haciendo beber. No es un beso por beso.


Fonte: ONG Warmayllu-Comunidad de Niños. Um novo sítio web é dedicado aos povos amazônicos do Ucayali, e surgiu após o I Tribunal de Jefes de comunidades indigenas del Ucayali, do qual, foi um dos pontos acordados, com a finalidade de que os povos se comuniquem e dêem a conhecer seus pontos de vistas, problemáticas e suas possíveis soluções. Conheça: Sitio web de la Nacion Shipiba. Visite também a exposição coletiva Sacharuna Visionary Arts.

26 de novembro de 2007

O lendário Roncador

Celebrando o Sol: Dois jovens xavantes do clã To´redza´öno dirigem o rito ao meio dia, diante da comunidade reunida, olhando fixamente o sol, a intervalos regulares.

O Templo da EUBIOSE em Xavantina, denominado Templo de Arabutã, perto da Serra do Roncador (Mato Grosso), termo que significa “região do fogo” ( o nome também dado ao Brasil pelos tupis), representa O FILHO, o que começa a ser realizado, no sentido da evolução da humanidade. É dedicado ao quinto Senhor ARABEL, à frente do novo Pramantha, a Divindade caída dos céus para redimir os homens. Relaciona-se com a qualidade da matéria denominada TAMS, com o sentido de ATIVIDADE, EVOLUÇÃO.

(...)
Existe, também, uma lenda que faz parte da tradição de todos os povos que habitaram o centro da América do Sul, uma imensa área praticamente inexplorada, entre as cabeceiras dos rios Tapajós e Xingu, em um dos contrafortes da Serra do Roncador, a chamada Serra Azul, imenso paredão divisor de águas de vários rios que ali por perto têm suas nascentes e correm para o Norte e para o Sul.

Nessa fantástica região, banhada de rios ainda praticamente desconhecidos, coberta por florestas ainda indevassadas, a lenda mais antiga diz existir uma “cidade”ou “cantão” oculto no seio da extensa cordilheira, e onde, há milhares de anos vivem segregados da humanidade, seres que atingiram um alto desenvolvimento espiritual; senhores de uma ciência transcendente, sem nada que os fascine em nossa civilização materialista, preferem evitar qualquer contato com os demais mortais, vivendo como verdadeiros membros de uma Fraternidade Iniciática, guardando um saber perdido para o vulgo, só o entregando aos que fazem jus em receber tão preciosa dádiva, depois de vencerem mil perigos e dificuldades.

Celebrando a Lua: Dois jovens xavantes do clã Öwawe dirigem o rito noturno, no meio de seus colegas de iniciação, batendo sobre o NONI da personagem, que representa a seriema, símbolo da fidelidade conjugal.

Segundo os eubióticos, com a inauguração do Templo de Xavantina em 1976, tem inicio a objetivação do Sistema Geográfico do Roncador. Já, a definição das 7 cidades que o compõe deu-se durante a Convenção Nacional da Sociedade Brasileira de Eubiose, em 1990, com a indicação das três primeiras cidades (Barra do Garças, Campinápolis e Água Boa). O Sistema Geográfico do Roncador tem sua sede na cidade de Nova Xavantina e se estende desde a cidade de Barra do Garças até a cidade de Vila Rica no extremo norte da Serra do Roncador (vide mapa), no Planalto de Mato Grosso, e, completando a sua formação, estão as cidades de Água Boa, Campinápolis, Cocalinho, Canarana e São Félix do Araguaia. O quadro de correspondências de cada cidade do Sistema Geográfico do Roncador, com as cidades dos outros dois Sistemas Geográficos da Eubiose, localizados em São Lourenço (Sul de Minas) e Itaparica (Bahia), bem como sua relação com as "7 Linhas do Conhecimento Universal", é o seguinte:

Sul de Minas

Itaparica

RoncadorLinha
Aiuruoca
Feira de Santana
CampinápolisTeurgia e Medicina Teúrgica
Conceição do Rio VerdeCachoeiraÁgua BoaFilosofia e Religião
São Tomé das LetrasSanto AmaroBarra do GarçasLiteratura
Maria da FéNazaré das FarinhasVila RicaCiência Mecânica
Carmo de MinasSanto Antônio de JesusSão Félix do AraguaiaPolítica
ItanhandúAmargosaCocalinhoArte
Pouso AltoBrejõesCanaranaMagia e Alquimia

FONTES: Matéria publicada na Revista Dhâranâ, edição nº 5, 1979. Coord: Dirce Bonfá: "Encontro dos Povos do Terceiro Milênio"; e blog A LUA NUA. A respeito dos mistérios do Roncador, ler também: Ufovia, La Gran Hermandad Blanca e Baby Schmitt . Imagens: Museu Dom Bosco.

Os filhos de Hunab K´u

Duas orações em maia, uma para o dia e outra para a noite. É importante pronunciar as palavras no idioma maia (mântrico). Revivendo a cultura maia estará cumprindo as profecias e fará parte desse ciclo, dentro do qual se manifesta o divino, e se tornará filho de HUNAB K´U em sua memória universal.

ORAÇÃO A HUNAB K´U (PARA O DIA)

CUT IP´IL K´INE C´K´AMIC A THAN YUM
(Ao nascer o Sol recebemos tua palavra, Senho)
TUMEL YETEL U ZAZILE C´AHAL C´PATIC TU LACAL BAAL
(Porque com sua luz desertamos e contemplamos tudo)
C´ILICBA XANTUMEN A PALALOOB XAN
(Contemplamo-nos também porque somos teus filhos)
LEBETICO CU ZAAZTALE C´K´UBCA TECH
(Por sso, ao amanhecer, nos entregamos a ti)
TIAL CA CALANTON. YETEL TOONE CANZAH TECH MIATZIL
(Para que cides de nós e nos ensines tua sabedoria)
A UICH CU PACTICON CU YILCOOM. YUM
(É tu rosto que nos olha e nos contempla, Senhor)
LEBETIC C´K´UBICBA T TECH TAA YETEL YUM HUNAB K´U
(Por sso, nos entregamos a ti, pai e Senhor Hunab K´u)
YETEL TECH CU CU K´UBIC C´PALALOOB
(E te entregamos nossos filhos)
HEBXTU K´UBAHOON C´YUMOOB TI TECH
(Como nossos pais nos entregaram a ti)
YUM HUNAB K´U A UOHEL BAAX CA BETIC TETEL
(Senhor Hunab K´u, tu sabes o que fazes conosco)
TOONEC C´K´ATICTECH YUM HUNAB K´U CA A CANZAHOOB LE BEHO
(Nós te pedimos, Senhor Hunab K´u, que nos ensines o caminho)
ANTON YUM HUNAB K´U U TIAL CA ZUTNAG LE IN LAK´ECHO
(Ajuda-nos, Senhor Hunab K´u, para que retorne esse amor fraterno)
C´K´ATICTECH C´YUM HUNAB K´U TIAL MA ZATAL. OH! YUM HUNAB K ´U!
(Te pedimos, Senhor Doador de Movimento e Medida, para não nos perder. Oh! Senhor Hunab K´u)


ORAÇÃO A HUNAB K´U (PARA A NOITE)

DZU BULUL H´YUM K´IN, DZU TIP´IL X´YUM AK´AB
(Já se pôs o Senhor Sol e já chegou a Senhora Noite)
PEPENOBE CU LEMBALOOB ICHIL U LOL CAAN
(As mariposas brilham entre as flores do céu)
C´TUCULE TIAN TI TECHE C´HUNAB K´U
(Nosso pensamento está em ti, Deus)
TUMEN TECE C´AZAHOLAL, TA K´AB C´K´UBICBA
(Porque és nossa esperança, em tuas mãos nos entregamos)
TECH A UOHEL BAAX CA MENTIC T´ETEL HUNAB K´U
(Tu sabes o que fazes conosco, Hunab K´u)
AK´ABE HUAB K´U, A K´AB CUK´ALALA
(A noite, Hunab K´u, é tua mão que se fecha)
T´ICHILE CU YUCHIL TU LACAL
(E dentro dela tudo ocorre)
HEBIX U TPO´OL NEK´E, HEBIX U HOK´OL YALCHE U TIP´IL LOL
(Como brota a semente, como nasce e brta a flor)
BEYO HEBIX U ZIHIL LE WUINICE
(Assim nasce o Ser Humano)
BEL U YUCHUL TU LACL TU K´AB HUNAB K´U
(Assim tudo acontece nas mãos de Deus)
CALENTEN IN HUNAB K´U! CALENTEN!
(Cuida de mim doador do movimento e medida! Cuida e mim!)
TI TECH IN DZAMA IN WUINCLIL YETEL IN VOL
(A ti entrego meu corpo e meu espírito).

Fonte: "Segredos da Religião Ciência Maia", de Hunbatz Men. Trad: Silvia Branco Sarzana - São Paulo, Ground: 2001. Conheçam o site de Hunbatz Men, ancião da Tradição Itza Maya: http://www.themayas.com.mx/

24 de novembro de 2007

São Sepé, o herói dos gaúchos

Sepé Tiaraju (-1756) – Herói da resistência guarani, de São Miguel Arcanjo (RS), foi morto em combate. Tornou-se figura central na luta contra o Tratado de Madri, que exigia a retirada da população guarani do território que ocupava havia cerca de 150 anos. Defendeu com a vida o rincão de caça, pesca, plantio e morada do povo guarani. Recebeu por isso canonização popular. Costumava dizer “Esta terra tem dono”. Após sua morte foram dizimados 1500 guaranis por espanhóis e portugueses.

CONTROLE CANTOS INDÍGENAS - BRASIL

EFEITO SELVA

AVÓ Faz muito tempo, aqui na selva de Mato Grosso, viviam nossos antepassados. Em harmonia com a natureza, caçavam, pescavam e adoravam o nosso criador Ñanderú-Guazú.

EFEITO CAVALOS, GRITOS

AVÓ Quando chegaram os espanhois e os portugueses, tudo mudou. Os conquistadores caçavam os índios para escravizá-los e tirar-lhes suas terras.

CONTROLE LEMBRANÇA BRASIL

AVÓ Também chegaram outros brancos, homens religiosos, os jesuitas. No princípio, nossos avós lhes tinham medo, mas eles vinham de outra maneira.

JESUÍTA A mensagem de Jesus Cristo é de justiça e amor para vocês, irmãos guaranis.

AVÓ Nós guaranis aceitamos sua palavra, aceitamos o seu Deus que era bom como nosso Pai Criador.

CONTROLE MÚSICA ALEGRE

EFEITO RISADAS, MUGIDOS

AVÓ Os jesuitas fundaram sete missões. Em cada uma, tinham terras para a comunidade e para cada família. Aí trabalhavam, estudavam, até elegiam seus caciques.

CONTROLE FLAUTAS DA MISSÃO

AVÓ Os meninos e meninas aprendiam música. A cruz dos estrangeiros não os maltratava como os irmãos e irmãs de outras terras.

CONTROLE MÚSICA ALEGRE

AVÓ Assim viveram por mais de 150 anos. Mas os reis de Espanha e Portugal eram ambiciosos…

ESPANHOL Colônia de Sacramento e a mudança das “missões” dos jesuítas… Trato feito!

LOCUTOR Em 1751, firmaram o Tratado de Madrid. Um imenso território guarani passou às mãos dos portugueses e os indígenas foram expulsos de suas terras.

CONTROLE MÚSICA GUERREIRA

AVÓ Mas os guaranis se rebelaram. A frente dos guerreiros ia Sepé Tiarajú, corregedor da missão de San Miguel.

SEPÉ Esta terra tem dono!... É nossa, nos foi dada por Deus!

LOCUTOR O grito de resistência guarani se espalhou por todas as missões. Com 30 mil guerreiros, armados apenas com lanças e flechas, Sepé Tiarajú bateu-se contra o poder da pólvora e os canhões.

AVÓ Sepé lhes fazia emboscadas, atacava de surpresa, aparecia e desaparecia.

HOMEM (AGITADO) Ten cuidado, Sepé, el ejército anda cerca.

SEPÉ Nossas vidas estão nas mãos de Deus. Ele nos cuidará.

LOCUTOR Os guaranis se escondiam em montes e quebradas, estavam em toda parte. Até que dia 7 de fevereiro de 1756…

EFEITO GALOPE E RELINCHOS, GRITARIA

AVÓ Os atacaram de surpresa. O exército chegou até a missão de San Gabriel procurando Sepé...

EFEITO RELINCHOS, ARCABUCES

AVÓ Sepé tratou de escapar, mas seu cavalo tropeçou num poço. Quando ia levantar, uma lança lhe atravesou as costas. O espanhol o rematou de um tiro.

CONTROL MÚSICA TRISTE

LOCUTOR Los invasores quemaron con pólvora el cuerpo de Sepé Tiarajú. Luego le separaron la cabeza.

EFEITOS GRILOS

AVÓ A noite, os guaranis regressaram em silêncio, juntaram as partes de seu corpo e o levaram para enterrar a pé de uma árvore.

CONTROLE MÚSICA TRISTE

EFEITO CANHÕES

LOCUTOR Três dias depois, o exército atacou as colinas de Caiboaté, a poucos quilômetros de San Gabriel. Em poucas horas foram massacrados mais de 1,500 guerreiros guaranis.

CONTROLE MÚSICA TRISTE

LOCUTOR As terras onde caíram Sepé Tiarajú e seus irmãos foram repartidas entre os oficiais portugueses. Mais tarde, este território guarani se converteu na atual província brasileira do Rio Grande do Sul.

CONTROLE MÚSICA INDÍGENA GUARANI

LOCUTORA Passaram 250 anos da morte de Sepé Tiarajú. 250 anos e os guaranis ainda são expulsos de suas terras, confinados em reservas, alcoolizados. Morrem de inanição. 38 indígenas foram assassinados no Brasil em 2005. E no inicio de 2006, foi assassinado o líder guarani Dorvalino Rocha.

AVÓ Sepé Tiarajú segue conosco. Nas noites cavalga pela selva com uma estrela brilhando em sua frente. Eu o vejo. E sei que ele nos guiará para recuperar a terra de nossos antepassados. Nossa terra sem males.


Fontes: Radialistas (clique aqui para baixar mp3 do programa em espanhol), "SÃO SEPÉ TIAJARU,ROGAI POR NÓS!" e ADITAL . Visite o site Rota Missões.

23 de novembro de 2007

Nas ondas da rádio

Finalmente, depois de duas décadas de negociações, a Assembléia Geral da ONU aprovou a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas que protegerá aos mais de 370 milhões de pessoas integradas em 5 mil comunidades em todo o mundo.

O texto, ratificado por 143 votos a favor, 4 contra e 11 abstenções, constitui um marco histórico para o movimento indígena mundial. Os quatro votos negativos foram — que sem-vergonhice!— dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

São 46 artigos, todos importantes. Pela extensão, gravamos só alguns, devidamente editados, para que os divulguem em suas emissoras.

Felicitações, irmãos e irmãs indígenas!

SPOT 1
LOCUTORA Os povos e as pessoas indígenas são livres e iguais a todos os demais povos e pessoas e têm direito a não ser objeto de nenhuma discriminação fundada em sua origem ou identidade indígena.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo segundo.

SPOT 2
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito à autonomia ou auto-governo nas questões relacionadas com seus assuntos internos e locais, assim como de dispor dos meios para financiar suas funções autônomas.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo quarto.

SPOT 3
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito a conservar e reforçar suas próprias instituições políticas, jurídicas, econômicas, sociais e culturais, mantendo, ao mesmo tempo, seu direito de participar plenamente, se o desejarem, na vida política, econômica, social e cultural do Estado.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo quinto.

SPOT 4
LOCUTORA Os povos indígenas têm o direito coletivo de viver em liberdade, paz e segurança como povos distintos e não serão submetidos a nenhum ato de genocídio nem nenhum outro ato de violência.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo sete.

SPOT 5
LOCUTORA Os povos indígenas não serão expulsos pela força de suas terras ou territórios. Não se procederá nenhum translado sem o consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas interessados.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo dez.

SPOT 6
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito a manifestar, praticar, desenvolver e ensinar suas tradições, costumes e cerimônias espirituais e religiosas; a manter e proteger seus lugares religiosos e culturais.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo doze.

SPOT 7
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito a revitalizar, utilizar, fomentar e transmitir às gerações futuras suas histórias, idiomas, tradições orais, filosofias, sistemas de escritura e literaturas e a atribuir nomes a suas comunidades, lugares, pessoas e a mantê-los.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo treze.

SPOT 8
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito a estabelecer e controlar seus sistemas e instituições docentes que incluam educação em seus próprios idiomas, em consonância com seus métodos culturais de ensino e aprendizagem.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo quatorze.

SPOT 9
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito a estabelecer seus próprios meios de informação em seus próprios idiomas e a ter acesso a todos os demais meios de informação não indígenas sem discriminação alguma.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo dezesseis.

SPOT 10
LOCUTORA As pessoas e povos indígenas têm direito a desfrutar plenamente de todos os direitos trabalhistas e a não ser submetidos a condições discriminatórias de trabalho.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo dezessete.

SPOT 11
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito a manter e desenvolver seus sistemas ou instituições políticas, econômicas e sociais que lhes assegurem o usufruto de seus próprios meios de subsistência e a dedicarem-se livremente a todas suas atividades econômicas tradicionais ou de outro tipo.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo 20.

SPOT 12
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito, sem discriminação alguma, a melhoria de suas condições econômicas e sociais: na educação, emprego, capacitação e requalificação profissional, habitação, saneamento, saúde e a seguridade social.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo 21.

SPOT 13
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito a seus próprios medicamentos tradicionais, à conservação de suas plantas, animais e minerais de interesse vital desde o ponto de vista médico, assim como ao acesso, sem discriminação alguma, a todos os serviços sociais e de saúde.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo 24.

SPOT 14
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito às terras, territórios e recursos que tradicionalmente possuíram, ocuparam ou adquiriram.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo 26.

SPOT 15
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito à reparação, mediante a restituição ou indenização justa, pelas terras e recursos que tradicionalmente possuíram e que foram confiscados, ocupados ou destruídos sem seu consentimento.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo 28.

SPOT 16
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito a manter, controlar, proteger e desenvolver seu patrimônio cultural e a propriedade intelectual de seus conhecimentos tradicionais, de sua ciência e tecnologia, inclusive os recursos humanos e genéticos, as sementes, os medicamentos, o conhecimento da fauna e da flora, as tradições orais, todas suas expressões culturais.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo 31.

SPOT 17
LOCUTORA Os povos indígenas têm direito a determinar e elaborar as prioridades e estratégias para o desenvolvimento ou a utilização de suas terras ou territórios e outros recursos. Os Estados celebrarão consultas a fim de obter seu consentimento livre e informado antes de aprovar qualquer projeto que afete a suas terras ou à exploração de recursos minerais, hídricos ou de outro tipo.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo 32.

SPOT 18
LOCUTORA Todos os direitos e as liberdades reconhecidos na presente Declaração são garantidos igualmente ao homem e a mulher indígenas.

LOCUTOR Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, artigo 44.

BIBLIOGRAFIA: Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas

FONTE: Radialistas Apasionadas y Apasionados

A Cultura Mágica dos Kallawayas

Mari de Pacheco durante as festividades da Cultura na Bolívia: em 2003 a UNESCO nomeou a Cultura mágico-religiosa Kallawaya como Patrimonio da Humanidade.

A principal atividade dos kallawayas é o exercício de uma medicina ancestral, à qual estão associados diversos ritos e cerimônias que constituem a base da economia local. A cosmovisão andina da cultura kallawaya abarca todo um acervo coerente de mitos, ritos, valores e expressões artísticas. Suas técnicas medicinais, baseadas nos sistemas de crenças dos antigos povos indígenas dos Andes, gozam de um amplo reconhecimento na Bolívia e em numerosos países da América do Sul, onde exercem os médicos-sacerdotes kallawayas.

A perda da tradição oral leva à progressiva desaparição de um grande número de práticas culturais nas comunidades indígenas latino-americanas. O que se segue são testemunhos obtidos pela organização ECLat e que ilustram o caso da medicina ancestral e de conhecimento das plantas medicinais kallawaya, na Bolívia.

"Sobre los viajes tradicionales de los curanderos kallawayas" (Hilarión Suxo, septiembre de 1998)

Primero, íbamos al cerro para un ritual. Salíamos después no más. Los viajes de los kallawayas duran varios meses, tres o cuatro.

Los que se iban para el canal de Panamá, en el año 1900, duraban cuatro meses, pero ya se murieron todos. Los kallawayas de hoy salen por poco tiempo. Hay quienes viven acá pero que no son nativos de la zona. Ellos llegaron hace poco, se casaron, aprendieron las plantas... pero no es igual.

Los kallawayas tienen otro idioma. No es el quechua o el aymará o el español... Nosotros lo sabíamos, pero lo estamos olvidando. Es un idioma para hablar entre nosotros los curanderos. Es una lengua secreta... especial.

Salí de viaje por primera vez cuando tenía 14 años, con otros kallawayas mayores. Así, aprendí a curar y vender mis jarabes, parches, pomadas... Viajábamos a pie. El primer viaje fue hasta el Perú. Íbamos de casa en casa. A veces, nos quedábamos dos o tres días en lugares donde no había ninguna casa.

Dormíamos en grutas.. ¡Eso es la vida del nómada! A veces sin comida. Llevábamos pan, pita molida (cereal) y azúcar. Tomábamos eso con agua fría no más. Para llegar a Cuzco y regresar nos demorábamos 45 días.

"Sobre los rituales y lugares sagrados kallawayas" (Hilarión Suxo y Pedro Huaqui, octubre de 1998):

Hilarión: Como decía mi abuelo: cada uno de nosotros nace con sus achachillas (cerro sagrado). Este achachilla (cerro Larwachijuani, comunidad de Pampa Blanca) hace parte de mis achachillas. Mucha gente ya no hace rituales en los cerros, para los achachillas, porque muchos de ellos no saben que son lugares sagrados.

Pedro: Sí. Es un poco triste porque la gente casi no sale a los cerros. Este achachilla está abandonado. Podríamos pasar un ritual aquí para nuestros viajes y la salud... Podríamos hacerlo. La gente ya no sube porque es un poco de sacrificio, un poco pesado subir... pero siempre es mejor hacerlo. Yo siempre paso rituales para mi salud y la cosecha.

Hilarión: Antes, había una casita donde se guardaba todo el material para los rituales platos, velas, conchas Ya no queda nada, todo se cayó. El día que hagamos rituales otra vez podríamos arreglarlo todo ¡Pero no así no más! Hay que pedirle permiso al espíritu de la montaña. Si no, él nos podría castigar o hacernos enfermar

Es que tiene su poder. Tendríamos que darle una comida o prepararle un ritual para pedirle el permiso para reconstruir la casa Es igual que nosotros: no te puedo quitar los zapatos sin preguntarte antes, o el gorro Si te lo quito así no más, te puedes enfadar. Pues, es igual para el achachilla

Es como un hombre, una persona tiene un nombre, una casa, su fuerza. Con un ritual, es como si le damos de comer. Si le preparamos una buena comida, se quedará tranquilo y podremos arreglar el lugar.

"Sobre el origen de la coca" (Hilarión Suxo, noviembre de 1998)

Vivía una mujer extraordinaria en una región de los Andes. Su belleza era magnífica. Tenía mucho encanto y era muy presumida. Era una diosa. Cuando tomaba un aspecto humano compartía con los hombres su encanto con caricias hechizantes.

Pero la conducta de esta mujer despertó los celos de las esposas y las protestas morales de los ancianos que la persiguieron Y la mataron. La enterraron en una tierra fecunda, en un lugar donde llovía mucho.

Del polvo de su cuerpo nació un arbusto chiquitito, cuyas hojas tenían propiedades maravillosas. Esas hojas tenían la fuerza de aliviar los dolores y el optimismo de la vida. La diosa se vengó de las esposas haciendo que sus maridos sufran de la permanente tentación de masticar aquellas hojas maravillosas.
Conheçam o site Kallawaya Sin Fronteras

Fonte: ECLat - Échanges Cultures Latinoamericains C/O Centre Social Baussenque 34, rue Baussenque 130002 Marseille, eclat@worldonline.fr

20 de novembro de 2007

Ícaros Amazônicos


Ryan Wylie está disponibilizando no YouTube como work-in-progress este documentário: "Icaros - Spirit Songs of the Amazon", uma produção da JAMM - Jungle Alliance for Medicine and Music, uma ong peruana.

Outro icaro aqui é apresentado pela médica Rosa Giove, "Madre Ayahuasca". Ela é a autora do livro La liana de los muertos al rescate de la vida - Medicina tradicional amazónica en el tratamiento de las toxicomanías - fruto de 7 anos de trabalho com toxicômanos no centro Takiwasi, em Tarapoto, no Peru: em seu texto "Acerca del icaro o canto shamánico" ela conta a letra de um ícaro (um ascensor ao plano astral predicado pela cultura aiauasqueira amazônida):

"Introdúceme en tu cuerpo
desde allí yo te hablaré.
Introdúceme en tu mente,
desde allí te alumbraré.
Introdúceme en tu corazón,
desde allí te daré calor.

Oirás mi voz de serpiente
deslizarse en tu oído.
Verás mi luz sin verla
a través de Los sentidos...
y mi calor te seguirá
más allá del frío frío
Y seré parte de ti,
tierra lanzada al infinito...

Mi voz te susurrará
cosas que crees no saber.
Dentro de ti vas a encontrar
la respuesta a tu ser
Ocho (8), doble círculo fecundo
dos serpientes enroscadas,
que te hablan sin decir...
que te dicen sin hablar...
NADA

Soy la energía en ti dormida,
despiértame ya.
Quiero ascender, reptar de una vez,
Cruzar el cero (O) ya,
cerrar el círculo aquel,
donde la flor duerme en la cruz...

Cuando el azul llegue a tu cara
y la luna a tu cabeza,
a su encuentro yo iré,
serpiente roja, desde la base,
a fundirme con el sol...
Y mi voz te guiará a través del agua
con el color del amor..."


Um tempo para cada coisa

foto: Tomas Abella - Altaïr

¡Ayaw haylli, yaw! ¡Ayaw haylli, yaw! ¡Ayaw haylli, yaw! ¡Ayaw haylli, yaw! Chaymi coya, chaymi palla [Aquí está reina, aquí está señora], Ahaylli. Ahaylli. [¡Viva! ¡Viva!]

Sendo a agricultura a principal atividade do Império Inca do Tawantinsuyu, o cultivo supunha que a semeadura, a colheita ou a rega fossem realizadas de acordo com um calendário anual, que foi desenvolvido durante milhares de anos até o período Inca. O conhecimento daquele cronograma se deveu aos cronistas quinhentistas como Guamán Poma, que descreveu o funcionamento do calendário agrícola imperial ilustrando-o com desenhos, que demonstram também a existência de um pensamento ambiental mágico.

Existia um calendário imperial e calendários regionais conforme as necessidades agrícolas de cada zona. O aspecto religioso-cultural era óbvio, pois a metade do ano era do Inca (Rei) e do Sol, um semestre masculino, enquanto que a outra metade era a da Luna e da Qoya (Rainha), ou seja, um semestre feminino. O calendário inca era lunisolar., e continua sendo praticado pelos remanescentes dos antigos ayllus no altiplano peruano e boliviano.

Começava-se o ano com o solstício de inverno, e reconheciam este momento graças a um sistema de observação, havendo ao redor da cidade do Cusco doze pilares dispostos de tal modo que a cada mês um deles assinalava por onde saía o sol e por onde se punha. Estes pilares se chamavam sucanga; e com eles se anunciavam as festas e os tempos de semear e colher.

A grande extensão do território do Império compreendia os dois hemisférios. Foi quando eles descobriram a existência da zona equatorial, onde o sol de meio-dia não fazia sombra em algumas colunas ou pilares durante determinadas jornadas, as do equinócio.

Esta descoberta foi feita em Quito, que eles pensavam estar muito mais perto do sol do que qualquer outro lugar. Provavelmente esta constatação influiu na decisão do Inca Huayna Cápac de mudar a corte para Tomebamba (Equador). Apesar de terem uma idéia pragmática do equador terrestre e das jornadas do equinócio, os incas não chegaram a compreendê-las em um processo científico, mas religioso.

Os astrônomos incas estabeleceram um calendário de 365 dias, cada um deles era materializado em uma huaca ou lugar sagrado. Dez destas huacas representavam uma espécie de semana, e três destas formavam o mês, ou quilla, doze das quais davam lugar ao ano.

Este calendário foi utilizado para os trabalhos agrícolas e para as festas, O ano começava em meses diferentes para as distintas etnias do território. Em geral, entre os agricultores, o ano começava em agosto-setembro, com a semeadura, e acabava em junho-julho depois das colheitas.

O site Novo Milênio compara assim o calendário inca com o Zodíaco:

Tarruca (Animal veloz e dotado de chifres) - Capricórnio
Mirku-Kcoyllur (Estrelas juntas) - Gêmeos
Chackana (Balança) - Balança
Mama-Hana (Mãe do céu ) -Virgem
Miki-Kiray (Tempo da água) - Aquário

Os meses e celebrações do calendário são os seguintes:

Janeiro: Huchuy Pacoy (Pequena colheita)
Fevereiro: Hatun Pocoy (Grande colheita)
Março: Pawqar Waraq (Ramo de flores)
Abril : Ayriwa (Dança do milho jovem)
Maio: Aymuray (Canção da colheita)
Junho: Inti Raymi (Festival do Sol)
Julho: Anta Situwa (Purificação terrena)
Agosto: Qapaq Situwa (Sacrifício de purificação geral)
Setembro: Qoya Raymi (Festival da rainha)
Outubro: Uma Raymi (Festival da água)
Novembro: Ayamarqa (Procissão dos mortos)
Dezembro: Qapaq Raymi (Festival magnífico)

Fontes: Telepolis, Bolivia en La Red, Discovery Brasil. Para se ler: "El calendario de los incas - Agricultura y comunidad" . Para ver uma apresentação em PDF do calendário agrícola de Guamán Poma de Ayala de 1580, com as imagens digitalizadas dos meses do ano adaptadas ao calendário de doze meses introduzido pelos espanhóis, clique em Calendario Agrícola Incaico Según Guaman Poma de Ayala. (organizado pelo historiador boliviano Luis Reynaldo Gomez Zubieta). No Digital Research Center of the Royal Library, da Dinamarca, se pode ler no original a obra de Felipe Guaman Poma de Ayala, El primer nueva corónica y buen gobierno (1615/1616).

19 de novembro de 2007

O Pólo Positivo do Planeta

Pouca gente se dá conta que os mecanismos vigentes de subjugação cultural possam ser tão profundos, como o que resulta por exemplo do sistema de mapeamento global normalmente utilizado e que representa o hemisfério norte como a parte superior da planeta. Trata-se de mera convenção geográfica, e afinal, em termos magnéticos, o Pólo Sul é o POSITIVO e o Pólo Norte o NEGATIVO. Convenções como esta influem no modo do indivíduo enxergar a seu lugar (ou o lugar de sua nação) no mundo. Recentemente a antiga tradição árabe de representar o Sul na parte superior dos mapas foi retomada pela Austrália, dando origem aos novos mapa-múndi que deveriam ser doravante adotados em todas as nações do hemisfério Sul, antes ensombrecidas pela imagem padronizada de serem filhos de continentes destinados naturalmente à submissão pelos auto-proclamados "povos superiores".

Em 13 de novembro passado a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) publicou as primeiras imagens de alta definição de um nascer da Terra no horizonte lunar. As imagens, tomadas no hemisfério sul da lua, mostram o nosso planeta ascendendo com essa configuração positivada, com a Austrália na parte superior do globo. Assistam às imagens (do nascer e do por da Terra) no site da JAXA:


Fontes: Caixa Preta e Zoo Bizarro

14 de novembro de 2007

Hermanos Americanos

Comemorações do Solstício em Tiwanaku (Bolívia) em Junho de 2007

O seguinte poema de Tupturka, ameríndio quíchua argentino, foi ganhador do Certamen Nacional de Cuento y Poesía "Grupo Icthios", Argentina, 1990, e publicado em "Noticias de Abya Yala" Nº 4 de SAIIC, USA,1992:

Hermanos Americanos

AbyaYala sobre las aras humeantes
Los cuatro puntos cardinales
Se tornan infiernos de sangre
Lava incandescente funde su potencia

AbyaYala pura descoyuntada
Batalla de esfuerzos imposibles
De trópicos magestuosos y ardientes
De selvas profundas, llanuras...
Mesetas salientes...

Razas ancestrales, culturas diferentes,
Pueblos fantasmas
Perdidos en el infinito
Siempre víctimas de vanas promesas.

Tendiendo nuestras manos
Desde las cuatro ternuras
Llegamos a este día.
Hermanos americanos.

A la sombra de esta memoria
elevemos una firme comna
Como simiente de ansiedad
Recordando todo esto
Seguiremos las huellas.

A versão original em quíchua, um idioma altamente sonoro e doce:

Awya Yala Wawgeykuna

Awya yalla apachi q'osni patapi
Tawa K'uchu tawantinsuyumanta
Yawar qhocha kutipun
llajsakun sirch'i nina urqota.

Awya yalla llanp'a ch'ujrikuxqa
Kallpa makanakuyta mana atisqarkuchu
Jatun ruphyay ukhu urqopi
Sach'a ukjupi panpakuna
Sallqa ch'inllan....

Unay ayllu yachaykunapi
Atimullpusqa chay jina llajtakunamanta
Chinkasqa nay uray janaj pachapi
Winaypaj arpa atisqa simir nisqa.

Mast'aspa makikunanchejta
Tawa nujunakuymanta
Kay pp'unchayman chhayamunchej
Awya Yalla wawqeykuna

Kay yuyayniyki llanthupi
Ancha sinch'i Pirqapi juqarina
Llakijmanta mujujjima
Tukuy kayta yuaytawan
Qhatisuchej chakisarukunanta
Ripusqankunawan.

Fonte: o excelente site Latin American Indigenous Peoples. Há mais para se ler em Poesía Indígena. Em português também se pode ler uma Antologia da Poesia Indígena no blog de César Bicalho.

13 de novembro de 2007

A carta de Raoni

O documento que Raoni entregou ao Presidente da República em 7/11, durante cerimônia em Belo Horizonte (MG), na qual o cacique recebeu a Ordem do Mérito Cultural, resume a preocupação de alguns povos indígenas como Mebengôkre (Kaiapó), Panará, Yudjá e Tapajuna, que o elaboraram durante curso de formação de professores na aldeia Piaruçu.

Na carta, eles escrevem que não querem a construção de hidrelétricas em suas terras, não querem mineração e pedem a demarcação da Terra Kapõt Nhinore, do povo Kaiapó, em identificação desde 2004, situada no Pará. Leiam a carta na íntegra:

Aldeia Piaraçu, 03 de novembro de 2007.

Ao Presidente da República do Brasil Luís Inácio da Silva – Lula
C/c para:Tarso Genro – Ministro da Justiça
Márcio Meira – Presidente da Funai

Nós estamos muito preocupados com o futuro dos nossos povos.

Queremos a demarcação do Kapôt Nhĩnore nesse ano. Há muito tempo estamos lutando pela demarcação, porque essa terra é sagrada e muito importante para o nosso povo Mebẽngôkre. Todos os anos os pescadores e fazendeiros estão invadindo e destruindo nossos recursos naturais e locais sagrados dentro do Kapôt Nhĩnore.

Além disso, sabemos que o seu Governo quer construir seis usinas hidrelétricas no rio Xingu e outras em seus afluentes, como no Tepwatinhõngô, que os brancos chamam de Jarina. Nós não vamos deixar construir essas usinas hidrelétricas que vão destruir nossos territórios, os nossos recursos naturais e a vida dos nossos povos.

Queremos a Funai fortalecida, recebendo e administrando todos os recursos que existem para os povos indígenas que estão espalhados em vários ministérios e órgãos governamentais. Não aceitamos a estadualização e municipalização da saúde e educação indígenas. Cada povo vai decidir como os recursos serão repassados e administrados para o atendimento de suas comunidades.

Não aceitamos a mineração em terras indígenas e principalmente sem autorização da comunidade indígena. Não queremos a entrada de mineradores, garimpeiros, madeireiros, pescadores e qualquer tipo de invasores em nossos territórios.

Queremos que os direitos indígenas conquistados na Constituição de 1988 sejam respeitados.

Presidente Lula, o Governo Brasileiro precisa respeitar e proteger os povos indígenas.

Fonte: ISA

A sagrada cerveja dos Aztecas

Photo © Justin Kerr
Cena palaciana com árvore de cacau. O sujeito usando uma prensa manual possivelmente esteja macerando sementes para o preparo do chocolate.

Habitantes das América Central descobriram a bebida de cacau há pelo menos 3.100 anos, 500 anos antes do que os pesquisadores consideravam a data da sua origem, segundo um novo estudo publicado nesta segunda-feira.

Arqueólogos liderados por John Henderson, da Universidade de Cornell, em Ithaca (Nova York), analisaram recipientes de cerâmica do Vale Ulua, no norte de Honduras, de 1100 A.C. Eles acharam resíduos de teobromina, substância só encontrada no cacau.

A teobromina é encontrada na planta do cacau, principalmente nas sementes, numa concentração de 1% a 4%. Ao fermentar e secar as sementes, e depois processar o extrato, se obtém o chocolate. A Teobromina é um alcalóide que, em estado puro, é um pó branco: uma metilxantina, da mesma família que a Cafeína. A etimologia da palavra é grega, sendo composta por duas palavras: ~ Theo «Deus» e Broma «Comida». A Teobromina, e mais especificamente o fruto que a produz, é a "Comida dos deuses" e assim era conhecida e apreciada pelos Maias e pelos Aztecas. Os Aztecas assumiram algumas das tradições anteriores dos Maias, sendo uma delas o consumo de uma bebida feita com sementes de cacau (sementes de cacau dissolvidos em água). Os Aztecas chamavam a essa bebida xocolatl, das palavras aztecas xocolli «amargo» e atl «água». O chocolate não era adoçado com açúcar (como se faz modernamente) e era dissolvido em água (daí o seu nome de «água amarga»). Esta bebida era muito apreciada pelas suas propriedades estimulantes (fornecidas pela teobromina) quer pelos Maias quer depois pelos Aztecas, que a tomavam ritualmente antes de uma guerra. Ao xocolatl eram, por vezes, adicionados pimentos picantes.

Os arqueólogos informam no site da revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" que a primeira evidência do uso humano da bebida de cacau é 500 anos anterior ao que se pensava. O tipo de cerâmica achado no Vale de Ulua indica que a bebida de cacau foi servida em grandes cerimônias para festejar bodas ou nascimentos, segundo os autores do estudo. "As primeiras bebidas de cacau foram produzidas através da fermentação da polpa ao redor das sementes", afirmam os cientistas em seu estudo.

Um dos pesquisadores, o antropólogo John Henderson, observa que as bebidas baseadas no cacau foram preparadas muito antes do que indicavam os documentos mais antigos e eram semelhantes à cerveja. Foram utilizadas para ganhar prestígio social, o que mostra o começo de um processo de criação de diferentes camadas na sociedade, afirma o especialista.

Quando Colombo chegou à América levou, aos reis espanhóis, algumas sementes de cacau mas a bebida de que era feito não ficou conhecida na Europa imediatamente. Só mais tarde chegou ao «velho» continente, porque a bebida azteca era amarga e diferente dos gostos adocicados dos europeus. Só aos poucos começou a ser apreciada, da mesma forma que na América Central. Era um «gosto adquirido», um pouco como a cerveja, que só ao fim de provar algumas se aprecia e gosta. Somente em 1585 foi enviado o primeiro carregamento de chocolate para a Europa. Os Europeus também a bebiam como «chá de café» (água quente com grãos de cacau muito dissolvidos) mas substituíram o pimento picante por baunilha e acrescentaram açúcar e leite para disfarçar o sabor amargo da bebida. No século XVII Turinby Doret criou o primeiro chocolate sólido, em 1819 Cailler criou a primeira fábrica de chocolate suíço e em 1828 Van Houten inventou um processo pelo qual o sabor amargo era retirado ao chocolate.

Fonte: "The Birth of Chocolate - or, The Tree of the Food of the Gods", de John Henderson. Leiam também: "Tasting Empire: Chocolate and the European Internalization of Mesoamerican Aesthetics", de Marcy Norton.

Amazonía Sumaq Kawsay

«Nós nos questionamos se um povo pequeno como o nosso pode mudar o mundo. Não pode! Mas nós estamos seguros que dentro de cada coração existe um povo que luta com a mesma força, e assim, mesmo sendo pequeno, nós somos símbolo da potência da vida.» (José Gualinga falando no documentário "Soy defensor de la selva", de Eriberto Gualinga).

MENSAGEM DOS YACHAKS DE SARAYAKU - AMEMOS A VIDA, A NATUREZA É VIDA:

"No transcurso de nossa existência somos responsáveis do que a natureza nos brindou para que o utilizemos de modo racional e possamos subsistir harmonicamente, e é de nossa completa responsabilidade viver em um ambiente são o que implica viver gozando de boa saúde física e mental.

Tudo o que existe na humanidade tem uma razão de existir, os recursos naturais não são a exceção, o petróleo não é a exceção, para muitos indivíduos o que vou dizer poderia soar poético e irreal, mas não é assim, o que vou dizer é real, tão real como a vida mesmo. A natureza tem vida própria, os rios, lagos, montanhas, árvores e tudo o que existe na natureza tem vida própria, atentar contra elas significa ocasionar imprudentemente um desequilibrio irreversível e alterar o transcurso normal da existência, e começam os desastres naturais para muitos inexplicáveis mas para nós explicáveis, essa é a maneira como protesta A MÃE NATUREZA pedindo a ouvidos surdos ser escutada.

Em meus 80 anos de vida vi muitas transformações, o que hoje defendemos não é o que existia antes: nesse tempo que passou, com a entrada da companhia Shell já se depredou parte de nossa natureza, com dor observamos como se extinguiam muitas espécies, que hoje não lhes encontramos mais, nos lagos encontrávamos mortas as imensas sucuris, botos, peixes-boi, jacarés, e pouco a pouco os seres dos rios e das montanhas buscaram refúgio, e muito recentemente é que se encontram agora em recuperação porque, a sábia Mãe Natureza torna a recuperar-se mas isto leva muitos anos e talvez as espécies que antes existiam já não voltem a se encontrar.

O petróleo, tão cobiçado por seu valor econômico monetário, não é nada mais e nada menos que o sangue que dá vida à Mãe Terra e sua natureza - agora se tenta tirar o sangue de seu corpo e viver na morte, não é lógico desangrar à mãe terra e pedir que a natureza não reaja, mas esta lógica possivelmente não funciona com os que à custa de tudo querem explorar o petróleo: de que lhes vai servir todo o dinheiro do mundo se vão rumo a sua própria desdita e morte, será que os grandes edifícios, as grandes mansões são imunes à reação da natureza, será que os terremotos, as erupções vulcânicas, as inundações, as tempestades não lhes afetam? Imagino que quando seja demasiado tarde nos daremos conta que a humanidade se equivocou e se autodestruiu mas já será tarde.

Muitos jovens, que ainda não viveram o suficiente para amar o que são, crêem que decidir sobre a vida é fácil, ou que por haver saído afora podem decidir sobre a vida interna das comunidades sem pedir a opinião dos anciãos, não se dão conta que cavam sua própria desdita, pois viver dignamente é importante, isso implica em ter consciência e princípios sólidos - lamentavelmente nos temos dado conta que muitos jovens que pedem que ingressem as companhias petroleiras dizendo falar em nome das comunidades, achando que vão contribuir ao desenvolvimento das comunidades, não possuem a mínima idéia de que desenvolvimento querem, o que pretendem é copiar algo perdendo a identidade e a dignidade.

A perda de identidade tem muitas formas, mas a pior perda é atentar contra os princípios de quem somos e para que estamos: uma pessoa pode estar em qualquer parte do mundo, interrelacionar-se com respeito com outros povos e ainda assim não perde sua identidade quando é consciente de quem é.

Senhores, lhes solicito encarecidamente, ajudem-nos a cuidar da humanidade, respeitando a terra e a mãe natureza, se cada indivíduo põe um grãozinho de sua parte será suficiente e a vida continuará."

Palavras de Sabino Atanacio Gualinga Cuji, representante dos Yachak (pajés) da Comunidade Kichwa de Sarayaku. O nome "Sarayaku" vem dos sábios ancestrais da nação Kichwa há centenas de anos, e em português significa RIO DO MILHO, mas nesta região o pão de cada dia na atualidade tem sido o assalto, o ultraje e injustiças contra os líderes e organizações que representam a comunidade. Estes ultrajes são parte dos métodos das empresas petroleiras estrangeiras, que não têm constrngimento algum: quando se trata de extrair petróleo, realizam provas sísmicas sem o consentimento das comunidades. O anterior governo equatoriano chegou a aludir "que os direitos de propriedade das comunidades indígenas se aplicam à superfície e não ao subsolo, que é patrimônio nacional", inclusive que "se não permitem o desenvolvimento petroleiro da zona, deveriam pagar ao Estado os 60 bilhões de dólares que vale o óleo cru que está no subsolo".


A comunidade de Sarayaku resiste sob o exemplo de Beatríz Gualinga Cuji, que em sua infância viveu a febre do caucho, emigrou para a cidade, para trabalhar como empregada doméstica, para depois regressar para lutar e defender o direito a viver em paz em sua terra. Durante mais de 25 anos, foi defensora da vida indígena, defensora da natureza, defensora do direito de seu povo. Quando morreu tinha 65 anos, a chamavam com carinho "Bacha". Beatríz Gualinga impulsionou a unificação indígena, protagonizando a marcha histórica dos indígenas do Pastaza em 1992, quando os indígenas conseguiram obter títulos legais de 2 milhões de hectáreas de territórios ancestrais. Sua voz se fazia ouvir e retumbava nos salões do "Señor Gobierno", como ela os denominava, quando se referia ao presidente do Equador. Antes de morrer e com lágrimas nos olhos, invocava aos céus e dizia: " até quando tanta injustiça!" e pediu a seu povo "Ima urasbas llaktata jarkanata ama sakinguichichu", "nunca deixem de lutar por nossa comunidade".

Para se ler: "Violações dos Direitos Econômicos: Um Roteiro das Obrigações do Estados - e suas Falhas!", no site DHNet. "En Sarayaku, la Mujer ejerce un fuerte liderazgo", é um artigo interessante disponibilizado em Quechua Network , e "Demandas y Propuestas de los Pueblos Indígenas al Estado Ecuatoriano" é uma publicação da Universidade de Princeton em 2001 que faz um retrospecto do movimento indígena no Equador. Conheçam também um álbum de fotos de Sarayaku no Espace Bolivarien, de onde saquei algumas imagens para esta matéria.

Fontes: sites Sarayacu e Vulcanus.